A crise financeira de 2008 deixou muitos investidores em pânico. Desesperada com a queda de valor de suas ações – o índice Bovespa perdeu 63% entre maio e outubro daquele ano –, essa turma realizou o prejuízo e deixou o mercado de ações. Na contramão dos assustados, porém, houve quem tomasse atitude diametralmente oposta e, até certo ponto, temerária. Foi o caso do empresário Rafael Brandão, de São Paulo, que vendeu propriedades para aplicar o dinheiro na bolsa em meio ao vendaval. “Entrei no momento certo” diz. Brandão investiu os recursos arrecadados em papéis de empresas sólidas, como a Petrobras, que estavam muito baratos na ocasião. “As ações da Petrobras, que antes da crise custavam R$ 34, chegaram a R$ 18.” 

 

3.jpg

Garimpo: Galdi, da SLW, diz que o investidor não deve apenas

olhar grandes descontos.

 

Com paciência, Brandão foi se desfazendo das ações, à medida que subiam de preço. Usou o dinheiro para fundar, em 2009, a Rio Alto Energia, uma das pioneiras de energia solar no Brasil, que hoje investe R$ 500 milhões. Para quem gostou dessa história com final feliz: os investidores brasileiros têm, hoje, a oportunidade de repetir a experiência de Brandão. A bolsa foi o pior investimento de maio no setor financeiro: o índice Bovespa caiu 12,75% no mês, seu pior desempenho desde outubro de 2008, quando recuou 24,80%. Com o índice próximo das mínimas históricas, não faltam papéis baratos. Mas como distinguir entre boas pechinchas e micos? O exemplo mais recente da segunda família é o do banco Cruzeiro do Sul, do empresário carioca Luis Octavio Indio da Costa, cujas ações caíram 40% antes de sofrer intervenção do Banco Central (veja matéria aqui). 

 

Para ajudá-lo a não embarcar em canoas furadas, DINHEIRO ouviu alguns analistas de mercado e selecionou dez papéis que podem ser considerados boas pechinchas (veja tabela abaixo). A lista é cautelosa. “As ações dos bancos, por exemplo, estão baratas, mas a inadimplência e as intervenções do governo na taxa de juros prejudicam a recuperação dos papéis”, diz o analista-chefe da SLW, Pedro Galdi. Para ele, o investidor não deve apenas olhar números e grandes descontos. “Antes de comprar um papel é preciso verificar como está indo o ramo de negócios da empresa”, diz Galdi. Para o economista-chefe da Lafis, Osmar Sanches, é importante analisar os balanços e perspectivas de cada empresa. “Ele deve sempre se pautar pela análise fundamentalista para a tomada de decisão, mesmo diante de pechinchas”, diz. 

 

O investidor também não deve esperar resultado a curto prazo. Segundo Cristiane Mancini, analista setorial da Lafis, acompanhar os indicadores econômicos e o comportamento de cada setor da empresa em que pretende investir é essencial. “As altas e baixas podem ser temporárias e não demonstram, necessariamente, o desempenho de uma ação”, afirma. Na lista feita para a DINHEIRO foram indicadas ações com preços baixos e potencial de alta no médio ou longo prazo. Estão na relacão empresas que tiveram, pelo menos, três indicações. As blue chips Petrobras e Vale encabeçam a lista, que inclui, também, Itaú – apesar do setor sob pressão –, BR Malls, Copasa e Iochpe-Maxion. 

 

Para Cristiane, da Lafis, é importante fazer uma análise setorial antes de escolher as ações. Segundo ela, tanto na mineração quanto na siderurgia há um excesso de oferta, com a preocupação dos compradores em relação ao cenário internacional conturbado, já que boa parte das receitas vem de exportações. “Apesar da tendência de baixa, as perspectivas para ambos os setores são positivas no longo prazo, mas com uma certa estabilidade”, afirma Cristiane. Não por acaso, são indicadas por diversos analistas ações da CSN e da Gerdau, com presença importante no Exterior. Mas só avaliar o setor não é suficiente. A construção civil, por exemplo, passa por um momento difícil, com atrasos de obras, elevação de custos e queda nas vendas. 

 

A equipe da Planner Corretora lembra, ainda, a queda expressiva dos resultados e alto nível de endividamento. Algumas empresas também passam por revisões de planos de negócios e incertezas societárias, como a Gafisa. Mas, mesmo assim, para alguns analistas, há boas oportunidades no setor, como a MRV Engenharia, que teve queda no lucro, mas tem uma possibilidade melhor que a dos concorrentes de se recuperar, com obras vinculadas ao programa Minha Casa Minha Vida. No varejo, onde houve muita perda no valor de mercado, também há boas oportunidades. Vários analistas recomendam a empresa de shopping centers BR Malls, por exemplo, cujo desempenho não está restrito a um produto de consumo específico, mas ao mix de lojas de seus centros comerciais. 

 

Já o setor de energia costuma ser mais estável e considerado defensivo, mas, neste ano, é bom prestar atenção ao ciclo de revisão tarifária das empresas de energia elétrica e, também, aguardar a decisão do governo sobre ativos das empresas vinculados a concessões que vencem em 2015. Há novas opções na área, como o grupo Cosan. Quem está entrando no mercado neste momento pode usar como critério a aquisição de ações defensivas, que paguem bons dividendos, e comprar aos poucos, fazendo um preço-alvo médio. No mais, é procurar não se estressar, evitando o pânico diante dos solavancos provocados pela crise internacional. “A bolsa continuará volátil enquanto o mercado espera uma solução para a crise da Grécia e da Espanha”, diz Sandra Peres, analista da Coinvalores.

 

4.jpg