Apesar das contundentes declarações contrárias de petistas e tucanos, na prática são mínimas as diferenças nas políticas econômicas de José Serra e Dilma Rousseff. 

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Ambos prometem respeitar contratos, mercados e a estabilidade da economia, baixar os juros quando for possível, promover as exportações e incentivar a indústria nacional. Mas há uma área em que nem tudo é igual para Dilma e Serra. É na política externa que os dois candidatos à Presidência da República mostram suas diferenças. O tema mereceu pouco espaço nos programas de governo. 

 

Mas as opiniões de cada um vão aparecendo aos poucos, em entrevistas e debates. Dilma promete seguir a política “ativa e altiva” do presidente Lula, manter a presença do País em foros importantes como G20, Fundo Monetário Inter-nacional e Conselho de Segurança da ONU e prega uma relação de solidariedade para com os vizinhos do continente e os países africanos. 

 

Para Serra, o espaço político é menos importante. O candidato tucano defende uma política mais pragmática, voltada ao comércio, com canalização de recursos para os mercados mais importantes e defesa dos interesses comerciais do País. Reflete, assim, as reclamações especialmente da indústria paulista, verbalizadas na semana passada pelo presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, que defendeu uma barreira para as importações que tiram espaço da indústria nacional.

 

Uma diferença importante entre os candidatos é a ênfase à América Latina e à África. Nas poucas vezes em que deixou a cautela de lado, Serra criticou duramente a Bolívia, pela leniência no combate ao tráfico de drogas e a Venezuela, pelas relações com as Farc, organização terrorista da Colômbia financiada pelo narcotráfico. Também defendeu reformas no Mercosul. Dilma defende a política atual, de apoio aos vizinhos, reforçando a posição de hegemonia regional do Brasil.

 

Nos círculos diplomáticos de Brasília, a percepção é de que pouco se altera com a mudança do inquilino no Palácio da Alvorada. É consenso que o Brasil perde seu popstar com a saída de Lula e nem Dilma nem Serra serão capazes de substituí-lo nesse quesito. 

 

O presidente será menos requisitado, mas a economia já conquistou seu lugar. O novo governo conservador da Grã-Bretanha colocou Bra-sil, Índia e China como prioridades. Os Estados Unidos voltaram a ser um parceiro comercial importante e lideram a lista de países de origem das importações brasileiras, com Alemanha em quarto lugar.

 

Se as mudanças são pequenas para fora, é dentro do Itamaraty que elas serão mais sentidas. Depois de oito anos, o chanceler Celso Amorim deve passar o bastão. Se o PT ganhar, pode ser para o secretário-geral, Antonio Patriota, ou alguém ligado ao seu círculo. 

 

Também é certo que o Itamaraty terá mais influência na definição da política externa do que hoje, quando apenas executa a política do Planalto. Com uma vitória de Serra, a mudança interna seria muito maior, com um novo grupo de diplomatas no comando da máquina. 

 

Mas, como disse um diplomata europeu ao ser questionado se fazia diferença, para as relações bilaterais, a vitória de um ou de outro: não, na prática, nada muda, respondeu.