Reunir quase 200 chefes de Estado em uma única foto é algo que só acontece uma vez em cada milênio. Fazê-los entoar um discurso único em torno de questões econômicas e sociais de alcance global, então, parece algo impossível. Criada justamente para isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) levou 55 anos para conseguir algo próximo disso. Da chamada Cúpula do Milênio ? a maior reunião de presidentes, reis, príncipes e líderes de países já organizada pela entidade ?, resultou pelo menos um plano de metas conjunto em torno de temas como a miséria e o desenvolvimento das nações pobres. Os mandatários prometeram, por exemplo, reduzir pela metade o imenso contingente de pessoas que ?vivem? com menos de US$ 1 por dia. Juraram, da mesma forma, esforçar-se para oferecer condições dignas para um universo de 100 milhões de moradores de favelas em todos os continentes. Finalmente, assumiram que devem compartilhar a responsabilidade pela administração do crescimento. A boa notícia é que nunca, desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a ONU tinha ido tão longe. A péssima notícia é que se trata apenas de palavras ecoando no imenso plenário da instituição, em Nova York. Não há sinal de políticas efetivas e/ou do dinheiro (muito, diga-se) necessário para implementá-las.

No discurso, a ONU agora perfila ao lado do FMI e do Banco Mundial, contumazes emissores de documentos exigindo o combate à pobreza. Todo ano toneladas de papel são torrados com relatórios chocantes sobre as condições de miséria no mundo e a abissal desigualdade entre ricos e pobres. Mas na hora de distribuir os recursos que têm em seus cofres, ignoram o que escreveram. Dias depois da reunião de Nova York, por exemplo, o Banco Mundial divulgou, na quarta-feira 13, a mais nova versão de seu Relatório do Desenvolvimento Mundial, com o subtítulo Como Atacar a Pobreza. É de estarrecer. Pelo trabalho, fica-se sabendo que há 1,2 bilhão de pessoas vegetando com menos de US$ 1 diário. Outro 1,6 bilhão não chega a ter US$ 2 por dia. E o número vem aumentando na África, Ásia Meridional e aqui na América Latina. A instituição recomenda, entre outras coisas, ?a ampliação das oportunidades econômicas para os pobres mediante estímulo ao crescimento econômico, fazendo com que os mercados funcionem melhor para os pobres e trabalhando no sentido da sua inclusão, especialmente por meio dos seus ativos, tais como terra e educação?. Blá, blá, blá…