O mercado de títulos verdes, voltados para o financiamento de projetos que atendem a agenda do Acordo de Paris, deve chegar a US$ 1 trilhão em 2020. Para Sean Kidney, que comanda a Climate Bonds Initiative, principal organização de fomento aos chamados green bonds, acredita que o Brasil tem grande chance de surfar nessa onda.

Qual é o tamanho do mercado de green bonds?
Este ano teremos algo em torno de US$ 160 bilhões, o dobro do ano passado. Em 2018 deve chegar a US$ 360 bilhões. Estamos dobrando todos os anos. Em 2020 é possível passar de US$ 1 trilhão.

O mercado está crescendo, porém ainda é caro para as empresas emitirem esse tipo de dívida. Como resolver essa questão?
O que acontece é que os títulos verdes estão começando a ter liquidez. É preciso ter liquidez para reduzir o preço. Esse é um desafio para o Brasil, não só em relação aos green bonds, mas para qualquer bond. As empresas brasileiras têm sofrido terrivelmente com altas taxas de juros nos últimos anos.

O que está acontecendo, então, é o surgimento de um mercado secundário para esse tipo de título, que vai ajudar a reduzir os custos?
Exato. Mas, os países precisam ter regulamentação.

O governo precisa ajudar…
Precisamos de reformas regulatórias. A área financeira do governo deve entender a importância desse mercado. No momento, a instabilidade política dificulta qualquer tipo de reforma no Brasil.

Agora, qual é a definição de títulos verdes? Há mais de um tipo de green bond?
Há todo tipo de green bonds. Existem títulos soberanos, bancários, corporativos, securitários, etc. Mas são todos verdes no sentido de que os recursos são utilizados para projetos verdes.

A Climate Bonds Initiative foca em um tipo específico de green bond?
Nossos alvos são investimentos direcionados à agenda do Acordo de Paris. A maioria dos títulos verdes está nessa categoria. Existem alguns bonds nos Estados Unidos e na China que não se enquadram, como os voltados para combater a poluição do ar. Mas não é particularmente diferente. É uma questão de foco.

Que tipo de projetos e setores atraem a demanda dos investidores em títulos verdes?
Há uma enorme quantidade de áreas. Primeiramente, energia, mas não acredito que o setor vai dominar o mercado. Na área de transporte, estamos vendo alguns projetos de ferrovias. Construção de edifícios verdes representa cerca de 20% do mercado. Existem, ainda, bonds que são voltados para o financiamento de programas de redução das emissões em países emergentes. É uma lista bem abrangente, eu devo dizer. As mudanças climáticas estão provocando uma revolução na economia mundial. Tudo que você consegue pensar em termos de negócios terá ou a redução das emissões, ou adaptações. Essas são grandes prioridades dos investidores. É preciso tornar as cidades mais verdes e pensar em agricultura sustentável, por exemplo. Brasil e Austrália são dois países que precisarão trabalhar nisso.

Como o Brasil deve trabalhar?
Eu envolveria todos os ministérios nessa questão. Não haveria um ministro intocável. Porque os green bonds podem ser emitidos em, praticamente, qualquer área que você imaginar.

Uma coisa importante, que talvez passe despercebida, é que governos e cidades também podem emitir os títulos verdes. Há demanda por parte dos investidores para esse tipo de emissão?
Sim. Desde que os ativos estejam alinhados. Não vimos muitos títulos mais gerais para projetos de cidades, mas vimos alguns títulos emitidos por municípios para projetos específicos, especialmente nos Estados Unidos. Johanesburgo, por exemplo, emitiu vários títulos para financiar projetos hídricos e de mobilidade. Mumbai, na Índia, vai emitir green bonds para financiar o metrô. São Paulo devia fazer o mesmo.

O sr. defendeu essa ideia pessoalmente com autoridades brasileiras?
Nunca encontrei o prefeito João Doria, que me parece uma pessoa muito interessante. Gostaria de ter a chance de conversar com ele.