A combinação entre a recessão e a Operação Lava-Jato atingiu as empreiteiras mais tradicionais do Brasil. Gigantes do setor como Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez enfrentam dificuldades para participar de licitações e deixam a porta aberta para as médias empresas entrarem de vez no jogo. “A diversificação dos competidores é muito boa para a infraestrutura brasileira”, afirma Guilherme Naves, sócio da consultoria Radar PPP. Por meio de consórcios, associação com companhias estrangeiras ou com fundos de investimentos, as construtoras de médio porte começaram a brigar por grandes obras e concessões. O leilão do aeroporto de Florianópolis, em março de 2017, foi vencido pela Racional Engenharia, em parceria com a suíça Zurich, que será a operadora do terminal. Com um faturamento de R$ 1 bilhão em 2016, o grupo brasileiro de engenharia ficará responsável pelas obras do novo terminal.

A empresa, de 46 anos, é mais conhecida pela atuação nos segmentos industrial e de edificações. Em Sorocaba, no interior de São Paulo, um consórcio de seis empresas médias, como a Pinise Vieri, com 31 anos de mercado e obras no setor corporativo, e a FBS Construtora, venceu a disputa pelo BRT (corredor de ônibus), estimado em R$ 384 milhões. Esses movimentos seguem uma adaptação dos projetos pelo poder público. “Os governos têm feito um esforço para reduzir as exigências técnicas, de índices financeiros e para não criar restrições às empresas estrangeiras”, diz Fernando Marcato, sócio-executivo da consultoria GO Associados. O valor dos editais tem caído. Em 2014, o valor médio dos contratos era de R$ 1,7 bilhão e caiu para R$ 515 milhões em 2016, segundo a Radar PPP.

A Engeform Engenharia está de olho nesse espaço. A empresa atua no mercado há mais de 35 anos e faturou R$ 358 milhões em 2017. A diretoria tem acompanhando de perto as concessões e estuda parcerias com estrangeiros. “Estamos avaliando as possibilidades de participar das concessões nos próximos anos”, diz Marcelo Castro, diretor da Engeform. Apesar do interesse crescente, a participação das empresas de médio porte segue aquém do esperado. “Elas foram pegas de surpresa e não estavam prontas financeiramente para tomar crédito”, diz Fábio Sertori, sócio de infraestrutura do Cascione Advogados.


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