A Copa do Mundo da Rússia consagrou a França como a grande campeã. Mas o torneio mundial de futebol também apresentou inúmeros paralelos com a gestão dos negócios. A começar pela própria equipe francesa. Mesmo com o time mais qualificado, segundo os principais analistas, os franceses escolheram o chamado futebol de resultado, sem se preocupar com o espetáculo. Era a forma se sobressaindo ao conteúdo. Alguns têm dificuldade de entender essa estratégia, mas é simples. A Croácia, a outra finalista, entregou tudo o que podia e era esperado em conhecimento, técnica e execução durante toda a Copa. Ninguém esperava mais do que a equipe croata apresentou.

A França, ao contrário, deixou a sensação de que poderia ter ido além, mas preferiu ser pragmática. Essa escolha me fez lembrar uma conversa que tive com o executivo de uma empresa de telecomunicações. Os resultados estavam ruins, mas ele dizia que a companhia se preparava para um futuro melhor. A visão estava certa, mas os acionistas não quiseram esperar. Precisavam do retorno imediato, para sentir confiança no que estava sendo feito. Para esse CEO, não adiantou jogar bonito. Ele foi demitido e quem foi reconhecido foi seu substituto.

Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola, cometeu um erro básico de gestão ao implodir o seu plano de negócios dois dias antes da estreia. Ele se disse traído pelo técnico Julen Lopetegui, que havia acertado um contrato com o Real Madrid. A arrogância do presidente se assemelha ao de um chaiman vaidoso, que não aceita ter a atenção dividida com o principal executivo. A fantástica primeira partida contra Portugal, o empate por 3 a 3, parecia dar razão a Rubiales – há quem diga que esse foi o melhor jogo do Mundial, embora eu prefira a vitória por 4 a 3 da França sobre a Argentina. O certo é que aquela exibição da Espanha não se repetiu nos jogos seguintes.

A cada rodada, a Fúria parecia uma equipe confusa, desarrumada e sem as qualidades de toque de bola em direção ao gol. É bom lembrar que os espanhóis fizeram uma excelente qualificação e estava à frente dos franceses em termos de qualidade técnica na Europa. O desfecho melancólico mostrou que aquela decisão do principal dirigente do país teve consequências. Como um bom conselheiro faz nas empresas, deveria ter cobrado uma melhor postura de seu técnico, para não desviar o foco. E a cada rodada reforçar a necessidade de consistência do resultado. Como não fez o que deveria, Rubiales deveria deixar o seu posto.

A necessidade de aprender as lições com o fracasso de um concorrente também foram deixadas de lado. De uma vez só, a Alemanha repetiu os erros do Brasil em 2010 e em 2014. Há oito anos, o então técnico Dunga deixou Neymar e Paulo Henrique Ganso de fora da Copa. Eles eram jovens em grande fase, mas o treinador disse que não estavam prontos para um grande torneio. Azar da seleção, que não teve alternativa para mudar o time na derrota para a Holanda. O técnico alemão, Joachin Löw, surpreendeu ao deixar de fora o talentoso meia Leroy Sané, além de ter convocado apenas três titulares da seleção olímpica vice-campeã de 2016. Dois zagueiros e o atacante Julian Brandt, que era o único a acrescentar brilho numa equipe cansada e envelhecida – assim como Luís Felipe Scolari fez em 2014, ao fechar o elenco com veteranos, alguns deles em má fase. Löw pecou pela teimosia, assim como Tite, que insistiu em seus homens de confiança, como Paulinho, e não deu espaço no time titular para Firmino, que estava em melhor fase técnica que Gabriel Jesus e Willian.

Por fim, os campeões mundiais mostraram a importância da diversidade de talentos dentro de uma estratégia de sucesso. A França era a equipe com o maior número de filhos de imigrantes (80% dos convocados), uma integração de diferentes culturas, estilos e visão do futebol. Não deixa de ser um recado para os ultraconservadores, como os Le Pen, que disputaram as eleições francesas com um discurso xenófobo e anti-imigração. A Copa do Mundo, mais uma vez, mostra que as lições vão além das quatro linhas.