O gestor de fundos americano Howard Marks já viu muita coisa. Aos 72 anos, ele acompanha os altos e baixos do mercado financeiro desde 1969, quando começou a trabalhar como analista no Citibank. Em 1995, Marks juntou-se a outros sócios e abriu sua própria empresa de gestão de recursos, a Oaktree Capital Management. Com US$ 121 bilhões em ativos no fim de março deste ano, a companhia, que abriu seu capital na Bolsa de Nova York em 2012, é especialista em fundos de ativos pouco líquidos, como imóveis. Ele falou à DINHEIRO antes de apresentar seus fundos a investidores brasileiros, em um evento em São Paulo:

Como o senhor avalia o Brasil em termos de atratividade de investimentos?
Vou responder com uma breve história. Em 2003, o economista Jim O’Neill, da Goldman Sachs, criou o conceito dos Bric – Brasil, Rússia, Índia e China. Alguns anos depois, a África do Sul entrou nesse grupo. Os Briscs, agora com um “s” no fim, eram considerados os países mais promissores para investir. Mas, 15 anos depois, vemos que o desenvolvimento deles não foi uniforme.

Qual a situação hoje?
A China tornou-se um lugar muito propício para os investidores. A Índia não avançou tanto quando a China, mas está no bom caminho. A Rússia, bem, tem seus problemas e investir lá é algo desafiador. O mesmo vale para a África do Sul. Mas isso era de se esperar devido às características das economias emergentes.

Quais?
Elas têm uma trajetória ascendente. Porém, esse movimento não é linear, não é gradual e não é uniforme. Ao contrário, a principal característica das economias emergentes é que elas são muito menos previsíveis que as maduras. Um país emergente tende a crescer mais depressa do que um desenvolvido, mas a estrada é mais esburacada, por assim dizer. Mas isso é bom para firmas com o nosso perfil.

Por quê?
Isso permite maiores ganhos, desde que o investidor tenha paciência para esperar a maturação dos investimentos e esteja disposto a correr riscos.

Isso vale para os ativos brasileiros também?
Sim. O Brasil apresenta oportunidades excelentes para investimento, tanto na infraestrutura quanto na produção de bens primários. Além disso, há companhias brasileiras de primeira linha.

É o momento de investir?
Como o Brasil terá uma eleição presidencial bastante imprevisível nas próximas semanas, talvez a recomendação mais prudente seja esperar até saber quem será o novo presidente. No entanto, o cenário básico é o mesmo.

No que sua empresa está investindo agora?
Nascemos há 23 anos com o objetivo de investir em ativos ilíquidos e também em dívidas vencidas e não pagas de empresas. Ao longo do tempo acrescentamos outras estratégias, como imóveis e private equity, mas a base ainda é a mesma. Mais recentemente, lançamos um fundo concentrado em dívida de empresas globais, denominado Global Credit. É esse fundo que viemos apresentar aos investidores no Brasil, em parceria com uma empresa local, a Itajubá Investimentos.

Em que esse fundo investe?
O fundo investe em títulos de renda fixa emitidos por empresas de primeira linha, mas que estejam pagando uma remuneração acima da média do mercado. Nosso trabalho é descobrir quais são esses papéis. Não é um fundo de risco nem um fundo de dívidas não pagas.

O senhor tentou vender esse produto antes no Brasil e não deu certo. O que aconteceu?
Eu vim ao Brasil pela primeira vez em 2010, no auge do ciclo de commodities, para oferecer nossos investimentos. As pessoas não estavam nem um pouco interessadas. O comentário geral era ‘o País está tão bem que não faz sentido diversificar’, e ninguém investiu. Agora, oito anos depois, a crise ajudou os investidores a perceber que é recomendável diversificar um pouco as aplicações.

O senhor recomenda essa aplicação como proteção contra a desvalorização do real?
Não, pois o fundo é neutro em câmbio. Nossa estratégia é fazer hedge, protegendo todas as posições, de modo a que o investidor não ganhe nem perca com as oscilações da moeda.