O executivo financeiro Manoel Felix Cintra Neto adquiriu nos últimos meses o peculiar hábito de almoçar duas vezes no mesmo dia. Não por gulodice, mas por dupla função. Quando a agenda aperta, ele senta à cabeceira de uma mesa como presidente da BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) e, terminada a refeição, corre para outra, na pele de banqueiro. ?Está difícil manter o corpo alinhado?, diverte-se. Sua face pública, de presidente de uma das maiores bolsas de futuro da América Latina já há oito anos, é famosa nos círculos financeiros. A outra, de sócio do banco Indusval Multistock (instituição de porte médio, ainda pouco conhecida no varejo), é mantida mais à sombra, mas começa a chamar atenção de peixes grandes do mercado. Na quinta-feira 19, o HSBC anunciou que está desembolsando R$ 371 milhões na compra da financeira do Indusval. A transação coroa a primeira etapa do trabalho de Manoel Felix, que tem como meta concentrar o foco do banco em uma clientela de pequenas e médias empresas, com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 100 milhões. Desde sua chegada, há exatos 15 meses, o Indusval tornou-se mais agressivo na busca desse tipo de cliente, abriu novas áreas de negócios e cresceu. O lucro da instituição praticamente dobrou no ano passado, e as operações de crédito para empresas cresceram 61,5%, atingindo R$ 126 milhões. ?Agora, queremos alcançar a marca de R$ 350 milhões em um ano?, diz o entusiasmado banqueiro.

Como continua à frente da BM&F, Manoel Felix teve de aprender a dividir seu tempo. Pela manhã, dá expediente no banco. À tarde, despacha na bolsa. Os dois escritórios ficam no centro de São Paulo, mas entre um período e outro ele faz questão de visi-
tar clientes. Reuniões do comitê de crédito do Indusval também têm espaço garantido em sua agenda. ?Quando se trata de empréstimos a empresas, é nos detalhes que mora o perigo?, justifica. De resto, sua função é ter boas idéias. Exemplo: Manoel Felix sugeriu aos sócios do banco montar um departamento de operações de câmbio para ganhar mercado entre as empresas exportadoras. A estratégia deu resultado. Hoje, 18% do total de crédito concedido já vem dos negócios em moeda estrangeira. A operação incluiu a abertura de um escritório na Inglaterra para facilitar a emissão de títulos de empresas interessadas em captar recursos no exterior. Outro projeto com as impressões digitais do presidente da BM&F foi a reformulação da corretora do grupo, que ganhou um departamento de agronegócios.

Apesar do expressivo crescimento do banco depois de sua chegada, Manoel Felix é reservado ao falar de seu trabalho. ?Tomamos as decisões em grupo, e não misturo minha atividade na BM&F com o banco?, diz. Os clientes, porém, inevitavelmente associam sua figura pública à marca do Indusval. ?O fato de ter o Manoel Felix na direção do banco dá uma credibilidade extra?, atesta Maristela de Araújo, diretora financeira da Arteb, empresa de autopeças cliente do banco há oito meses. ?A única desvantagem de tê-lo como sócio é que ele é muito ocupado?, brinca Luiz Masagão Ribeiro, outro controlador do banco. Como presidente da BM&F, Manoel Felix está envolvido agora em fechar um acordo com a Bolsa de Mercadorias e Futuros da Argentina. A idéia é unir as duas bolsas para aumentar o volume de operações nos contratos agrícolas e competir de frente com a Bolsa de Chicago, referência no mercado futuro. Formado em economia, este executivo de 55 anos só trabalhou duas vezes como empregado. Como estagiário do antigo banco Bozano. E como diretor do Multiplic, do qual acabou virando presidente. ?Não é qualquer um que, de trainee, vira banqueiro?, elogia a headhunter Lais Passarelli. ?Agora, vamos ver como ele vai conduzir a carreira daqui para frente.?