É preciso anotar na ponta do lápis a quantidade de compromissos – e dos valores – agendados para os gastos do ano que se inicia. E eles começam justamente na ponta do social, que é a pedra de toque para a sustentação também desse governo. O presidente e seus assessores se deparam com um imenso dilema: como fazer frente à avalanche de despesas dos programas assistências sem estourar o bendito e vigiado teto dos gastos? Jair Bolsonaro já foi convencido e não arreda pé da ideia de que somente o “Bolsa Família”, ou seja lá qual for o nome dado a ajuda rotineira e mensal às camadas mais pobres, garante a ele alguma chance de reeleição em 2022. Disso, até o mundo mineral está careca de saber. O capitão, na sua primeira metade de mandato, tratou de destruir pontes, bagunçar a credibilidade em meio a um festival de sandices, mostrar, em suma, que possui aptidão zero para o cargo. Não é, nem nunca foi, um chefe da Nação na completa descrição do cargo. Ao contrário, agiu como opositor dele mesmo a cada deliberação e reação que tomou. Para atender ao programa, na dimensão que Messias almeja e precisa para caracterizar seu papel de redentor da pátria, é preciso verba. Dinheiro que anda em falta. Não há recursos extras, nem de onde tirar. O presidente já emitiu uma espécie de memorando ao Congresso solicitando autorização para pedir emprestado algum recurso lá fora. Deseja apelar aos papagaios, medida não apenas perigosa como sinalizadora de fragilidade financeira. Não ajuda em nada a economia um movimento como esse. A leitura dos investidores é clara e direta: se o País corre atrás de linhas de crédito, não vai bem. Para ficar bem com a turba, o mandatário tentou até jogar verde, mentindo mais uma vez, como é corrente e de seu feitio desde que assumiu o Planalto. Na lorota da vez, alegou que não concedeu o 13º do auxílio porque o Congresso vetou. Bravatas possuem perna curta. Logo Rodrigo Maia, que comanda a Câmara dos Deputados até fevereiro próximo, veio em resposta. Deixou claro que a deliberação foi do Executivo. Ameaçou votar de imediato a medida, caso o capitão não desmentisse o que disse. Corre daqui e dali, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve de assumir de público que era decisão interna de governo. Ficou feio, mais uma vez, para o caudilho bananeiro. Bolsonaro não se emenda. Segue flertando, dia sim, outro também, com pedalagens fiscais arriscadas, que podem lhe arrancar o cargo. Está numa encruzilhada contábil gigantesca. O orçamento, aprovado já com um déficit-monstro que supera a casa dos R$ 247 bilhões, não tem espaço para nada. Nem dará conta
dos compromissos já agendados. Em 2021, o tamanho da encrenca econômica – incluindo as dívidas de títulos a vencer – é algo que pode ser classificado na categoria de indecente. Vamos esperar para ver.

Carlos José Marques, diretor editorial