Nascido em Milão, em 1935, o empresário Fabrizio Fasano morreu em São Paulo, na madrugada do sábado, 24 de novembro, depois de ter vivido seus 83 anos com uma intensidade rara. Sua trajetória combinou doses generosas de espírito sonhador e da arte de bem viver. Foi graças a seu bom gosto que a alta sociedade paulistana, em dourados anos do início da década de 1960, passou a ter acesso aos mais refinados ambientes para se divertir comendo e bebendo muito bem, além de poder ver e ser vista por gente elegante e sofisticada. Mais que um empresário sonhador que enfrentou altos e baixos na dificílima arte de fazer negócios no Brasil, Fabrizio Fasano cultivou ao longo de sua vida a marca da ousadia.

Se seu sobrenome já era sinônimo de gastronomia na cidade desde 1902, quando o avô Vittorio inaugurou uma “brasserie” na região central, foi graças ao gênio inquieto de Fabrizio que a família Fasano deu início à construção de um império formado por restaurantes e hotéis de luxo. Hoje o Grupo Fasano, comandado pelo filho Rogério, conta com unidades em São Paulo (na capital e no condomínio Fazenda Boa Vista), no Rio de Janeiro, em Salvador e Trancoso (na Bahia) e em Punta del Este, no Uruguai. Seus sonhos o levaram a produzir bebidas, caso dos uísques Old Eight e Brazilian Blend, e um pioneiro vinho branco de estilo alemão, o Weinzeller.

Essas apostas o levaram a ganhar e perder dinheiro aos montes. Adorava festas e recebia a elite paulistana e mundial em seus endereços. Foi anfitrião de artistas como Nat King Cole e Marlene Dietrich, Sammy Davis Jr, e Sarah Vaughan. Sua privilegiada rede de relacionamentos o ajudou a trafegar também por outros setores empresariais. Sua passagem pelo mercado editorial foi marcante: junto com Domingo Alzugaray (1932-2017) e Luís Carta (1936-1994), fundou a Editora Três, responsável por lançar grandes títulos no País – entre eles a DINHEIRO. Além do filho Rogério, o Gero, era pai de Andrea, que hoje comando a Casa Fasano, dedicada a eventos, e de Fabrizio Fasano Jr., fotógrafo que ficou conhecido do grande público como jurado do programa de gastronomia “Bake Off Brasil – Mão na Massa”.

Antes de dar início à jornada empresarial que inscreveu seu sobrenome definitivamente na história do mundo do luxo no Brasil e no exterior, Fabrizio fez faculdade de nos Estados Unidos. Ao se fixar em São Paulo, na década de 1960, assumiu o controle da confeitaria e do restaurante da família, o Jardim de Inverno, que funcionava no terraço do Conjunto Nacional, em uma Avenida Paulista que já havia visto os palacetes dos antigos barões do café darem lugar a arranha-céus de escritórios. Foi ali que o destino gastronômico da família sofreu uma breve interrupção, apenas para voltar com força total na década de 1990. Foi quando o restaurante Fasano renasceu na Rua Amauri. A iniciativa ajudou a transformar aquele pedaço em um dos ícones da badalação paulistana que perdura até hoje. Quando o imóvel que o restaurante ocupava foi vendido para a construção de um edifício, Fabrizio se instalou numa mansão na Haddock Lobo, criando o mais luxuoso restaurante que a capital paulista conheceu.

A grife Fasano criou uma escola de restaurateurs que se inspiraram nas ideias de Fabrizio para aprimorar as cozinhas e o atendimento, até então sujeito a imprevistos. Com a assinatura Fasano, a história da gastronomia brasileira mudaria para sempre.
Hoje a marca está espalhada por várias cidades, mas a essência do bom atendimento permanece nos detalhes. E, a poucos metros do restaurante que mudou a cara da alta gastronomia paulistana, Rogério Fasano mantém o compromisso do pai em servir aos paladares e hóspedes mais exigentes de maneira irrepreensível. No Hotel Fasano, no número 88 da rua que leva o nome do patriarca Vittorio, os sonhos de Fabrizio permanecem vivos . Que assim seja.