À primeira vista, a arma empunhada na foto que ilustra esta reportagem pode parecer saída do set de filmagens da franquia “MIB: Homens de Preto”, estrelada por Will Smith e Tommy Lee Jones. Na trama, os protagonistas caçam alienígenas invasores. Mas não é nada disso. A arma aqui chama-se jammer e foi projetada para lançar um pulso elétrico que “captura” qualquer drone que esteja sobrevoando um local proibido. Dependendo do comando do operador, o jammer pode manter o aparelho pairando no ar, enviá-lo de volta ao seu dono ou obrigá-lo a voar até onde possa ser confiscado pelas autoridades.

Na imagem ao lado, o “operador” é alguém bastante qualificado para tomar as decisões mais apropriadas sobre o que fazer com um drone intruso. Porém, não é isso o que ele faz no dia a dia. Diretor de Desenvolvimento de Negócios da chinesa Hikvision, Álvaro de Souza atua na operação brasileira da maior fabricante mundial de soluções de segurança — um conglomerado que desenvolve desde câmeras de vídeo até programas de “deep learning”, emprega 34 mil funcionários em suas 40 subsidiárias no mundo todo e, segundo seu balanço mais recente, faturou R$ 23,9 bilhões apenas no primeiro semestre deste ano.

Quanto ao drone que também aparece na foto, ele não foi capturado pelo jammer. Com câmeras de vídeo que usam tecnologia 4K, o aparelho transmite imagens que alimentam programas de reconhecimento facial e detecção de riscos baseados em Inteligência Artificial. “A Hikvision é um dos poucos fabricantes de equipamentos de segurança que detêm algoritmos capazes de transformar em dados”, afirma Álvaro de Souza, engenheiro em telecomunicações, com MBA pela Fundação Getúlio Vargas.

Antes de ingressar na companhia chinesa, ele trabalhava com tecnologia de raio-x para escaneamento corporal na área de segurança em aeroportos. “O futuro do setor está no reconhecimento facial com câmeras inteligentes”, acredita. Embora a Hikvision forneça soluções para setores como indústria, varejo, transportes e até condomínios, é a área de segurança pública que vem puxando os negócios. “Os tíquetes mais altos hoje são dos governos”, diz Souza. “O Brasil ainda está atrasado nessa jornada, mas vem avançando”. Recentemente, a empresa doou um drone e mil câmeras para a prefeitura de São Paulo. “Fizemos parte de uma iniciativa para modernizar o sistema de segurança da cidade a partir de recursos tecnológicos”. Segundo ele, uma câmera com zoom ótico de 30 vezes pode reconhecer um suspeito a uma distância de 150 a 200 metros. Evidentemente, não existe mão de obra para analisar as imagens geradas por todas as câmeras espalhadas pelas grandes cidades.

PORTAS ABERTAS É aí que entram os softwares de reconhecimento facial e detecção de comportamentos suspeitos. A tecnologia trabalha com buscas parametrizadas, cruzando dados do monitoramento em tempo real com imagens cadastradas em bancos de dados. No ambiente de um shopping center, por exemplo, é possível localizar pessoas que já causaram problemas antes, mesmo que elas não tenham sido fichadas. A Inteligência Artificial relaciona características e alerta movimentos suspeitos. Outra aplicação bastante utilizada, segundo Souza, é para flagrar torcedores banidos em estádios de futebol. Mas o reconhecimento não é apenas preventivo. Ele também serve ao marketing de relacionamento. “No exterior, é comum permitir que clientes VIPs tenham acesso a áreas restritas de bancos, lojas de luxo e até cassinos, apenas pelo reconhecimento facial”. Da mesma forma como capturam ameaças, as tecnologias de segurança também abrem portas.