O dólar subiu 28% no ano até a quarta-feira 5. Somente em agosto, a moeda americana apreciou-se 10,1% em relação ao real. Além da incerteza eleitoral, o câmbio vem sendo pressionado pela expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos. Hoje, as taxas referenciais estão em 1,5% ao ano, mas os diretores do banco central americano esperam que esse percentual esteja entre 2,75% e 3% ao ano no fim de 2019. Além disso, o agravamento da crise na Argentina adiciona uma dose extra de cautela ao mercado (leia mais aqui).

A desvalorização do real pode ter efeitos nocivos para o Brasil, como pressionar a inflação, mas é um bálsamo para as empresas que têm uma parte relevante de sua receita em dólares. Para elas, a disparada das verdinhas significa uma injeção imediata de dinheiro no caixa. E para os investidores, elas permitem surfar com a alta do dólar sem ter de se expor aos riscos do mercado cambial.

Petroquímica: além do dólar, ação da Braskem se beneficia com a expectativa de troca no controle acionário (Crédito:Divulgação)

Um dos melhores exemplos é o da produtora de papel e celulose Suzano, cujas ações subiram impressionantes 191% neste ano. “É o papel contra o apocalipse. Todos resolveram comprá-lo para se proteger do cenário incerto”, diz Glauco Legat, analista da corretora Spinelli. E a motivação não é banal. No segundo trimestre, a receita líquida somou R$ 3,2 bilhões, alta de 26,6% na comparação anual. Cerca de 72% das vendas são exportações.

Legat não é o único entusiasta do papel da Suzano. Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, avalia que os fundamentos são bons e devem melhorar ainda mais com a conclusão da fusão com a concorrente Fibria, anunciada em março. Na quarta-feira 5, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) rejeitou os pedidos de acionistas minoritários para adiar a assembleia de acionistas agendada para 13 de setembro, na qual a fusão entre as empresas será votada. Com a notícia, as ações da Suzano dispararam e fecharam a R$ 54,12, alta de 7,4%. “A assembleia é um passo importante no processo de aprovação”, afirma Leonardo Correa, analista do BTG Pactual, em relatório. Ele aponta as ações da companhia como a melhor opção do setor e indica um preço-alvo de R$ 58 em 12 meses, alta potencial de 7,1%.

Há outros setores que se beneficiam com a alta do dólar. Um deles é o petroquímico. A Braskem se destaca, pois 30% de suas vendas destinam-se a clientes internacionais. No acumulado do ano, as ações da companhia estão subindo 38,9%. Nesse caso, há vários pontos positivos além do aumento das receitas devido ao câmbio. Um deles é a expectativa do mercado com a mudança do controle acionário da empresa. Desde meados do segundo trimestre, a Odebrecht, uma das controladoras ao lado da Petrobras, negocia a venda de sua participação para a holandesa LyondellBasell.

Papel e celulose: expectativa pela fusão da Suzano com a Fíbria impulsiona interesse dos investidores pelo setor (Crédito:Getty Images)

Considerando-se ações ordinárias e preferenciais, a Odebrecht possui 38,3% do capital da companhia. “Podemos ter alguma surpresa na proposta de compra, mas acredito que o potencial de valorização do papel está limitado”, diz Passos. Além disso, o analista destaca que a Braskem vem apresentando fundamentos sólidos. A geração de caixa medida pelo Ebitda subiu para R$ 3,2 bilhões no segundo trimestre, alta de 20% em relação ao período entre janeiro e março deste ano.

Outra a brilhar devido ao câmbio é a Vale. Sem surpresas, a mineradora tem sido um dos destaques dos pregões, com uma valorização de 34,8% no acumulado do ano. “Ela está mais eficiente em termos operacionais desde a indicação de Fabio Schvartsman para a presidência, em maio de 2017”, diz Legat. No entanto, na avaliação do analista, o papel tem pouco espaço para avançar após registrar a cotação máxima histórica de R$ 56,75 no mês de agosto. A Gerdau também tem trazido boas notícias para seus acionistas, com uma alta de 27,8%. A siderúrgica divide suas operações entre os mercados brasileiro e americano. “Apesar da valorização elevada neste ano, seguimos com recomendação de compra para o papel, que oferece um potencial de valorização de 11% até dezembro”, afirma Pedro Galdi, analista-chefe da corretora Mirae Investimentos.

Papel e celulose, produtos petroquímicos, mineração e siderurgia são apostas óbvias de setores que ganham com a alta do câmbio. Porém, os analistas destacam uma ação cujos benefícios não são tão evidentes. É a resseguradora IRB, que estreou na Bolsa em julho de 2017. Seus papéis valorizam 91% neste ano. “Um dos motivos da alta é a exposição da companhia no mercado externo”, diz Passos. Ele avalia que 37% da receita com prêmios da empresa, que foi de R$ 1,9 bilhão no segundo trimestre, foram provenientes do exterior. “Ela é também uma boa pagadora de dividendos e recomendamos a compra”, diz Passos.