Por Milton Rego

Com otimismo e apreensão. Foi assim que os filiados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal) reagiram à notícia de que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou as diretrizes para a liberalização do mercado de gás natural. Por um lado, temos finalmente a chance de iniciar o processo de modernização de um setor absolutamente estratégico para a indústria e para a economia nacionais. Por outro, trata-se somente do primeiro passo. Ou seja, agora, mais do que nunca, a cadeia produtiva tem de intensificar seus esforços para que a iniciativa não fique pelo caminho ou que acabe desvirtuada ao longo dele.

As diretrizes do CNPE têm as digitais de dezenas de entidades como a ABAL, que, individualmente ou reunidas em espaços como o Fórum do Gás, vêm discutindo e elaborando propostas para o setor, muitas vezes em conjunto com o próprio governo. O que se propõe, em resumo, é abrir o mercado de gás à concorrência, diminuindo o tamanho da Petrobras na distribuição e comercialização do insumo. Dessa forma, acreditamos, a produção de gás crescerá, haverá disponibilidade maior de fornecimento e tarifas mais previsíveis e competitivas, que irão beneficiar tanto o consumidor industrial quanto doméstico.

O uso do gás como fonte térmica e para a geração de energia elétrica vem crescendo no mundo. Essa corrida se explica pelo aumento da oferta e pelas reduções de preço. Um bom exemplo é a revolução provocada pela exploração do shale gas (gás de xisto) nos Estados Unidos. Energia é um insumo vital para a indústria. A cadeia produtiva do alumínio utiliza intensivamente em suas diversas etapas de produção tanto energia elétrica quanto gás. O setor elétrico brasileiro já foi considerado um dos mais eficientes do mundo. Mas isso ficou no passado. O sistema necessita (sem trocadilho) de um choque de competitividade.

O resultado desse desarranjo é que o preço da energia elétrica cresceu nas últimas duas décadas tanto em reais como em dólares. Ela responde hoje por mais de 60% do custo da etapa primária de produção do alumínio – um percentual insustentável. O resultado é que o preço da energia elétrica se tornou a principal causa do fechamento de cinco grandes refinarias nos últimos anos.

Não podemos deixar que a mesma coisa aconteça ao gás. Recentes descobertas em águas profundas da Bacia Sergipe-Alagoas colocam o Brasil na sexta posição entre as maiores reservas de gás do mundo. O insumo responde hoje por 12% da nossa matriz energética. É uma alternativa viável a ser desenvolvida. Fontes de gás competitivas teriam impacto positivo em praticamente todos os elos da cadeia do alumínio, do refino da bauxita até a fabricação de produtos – em especial, à reciclagem do metal, uma vez que hoje o preço do gás representa 30% dos custos do processo.

E quando me refiro à importância do gás para a reciclagem do alumínio, posso garantir que é também um insumo importantíssimo na reciclagem dos outros metais. Uma maior competitividade do gás terá um duplo papel: aumentará a eficiência da reciclagem e diminuirá a pegada de carbono de todo o processo. A queima do gás polui menos quando comparada a do petróleo ou a do carvão. É o primeiro passo para a descarbonização da indústria. Dentro de uma economia global que se orienta cada vez mais na direção do consumo verde, o gás joga um papel de destaque.

O que é preciso fazer é conhecido de todos. As diretrizes estão aí. Temos de seguir em frente para implantá-las, trabalhando de forma coordenada, construindo pontes com governo, com Congresso, com a sociedade e colocando o País novamente na rota do crescimento. É hora de dar um gás!

Milton Rego é presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).