A 29ª Bienal de Arte de São Paulo foi aberta no sábado 25, no Ibirapuera, ainda aquecida pela sua maior polêmica, causada em torno da série Inimigos de Gil Vicente. Nas obras, o artista pernambucano se autorretrata assassinando figuras políticas importantes do Brasil e do mundo, como o ex-presidente Fernando Henrique e o presidente Lula.  A OAB pediu a retirada das obras das paredes da mostra, por fazerem apologia ao crime, e começou a discussão sobre se a arte deve ser censurada. Muita gente achou que elas também deveriam deixar a Bienal por sua estética grosseira. Enfim. Pode-se até não gostar das obras, muitas sem sentido nenhum e de gosto duvidoso, selecionadas para integrar a maior mostra artística do Brasil. 

 

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Mas o que não se discute e não se pode ignorar é a comoção que as grandes exposições de arte causam no consumidor médio. Agitação essa que se traduz em faturamento, principalmente para as vertentes da indústria do turismo. No entanto, parece que a cidade de São Paulo se esqueceu dessa sua real vocação de potente aglutinadora de negócios relacionados à arte — coisa que, nas primeiras edições da Bienal, estava mais latente. Não se deu conta disso nem do potencial de glamour dessas duradouras mostras.

 

No ranking dos eventos mais atraentes da Secretaria de Turismo da cidade de São Paulo, a Bienal de Arte de SP ocupa só a sexta colocação, atrás da Virada Cultural, da Parada Gay, do Réveillon na Paulista, da Bienal do Livro e do Salão do Automóvel. Na lista dos mais rentáveis, o evento se sai melhor. Figura na quinta posição com R$ 120 milhões arrecadados pela cidade, por causa de seus quadros tortos, esculturas desconstruídas e videoinstalações desfocadas. 

 

É pouco. É pequeno para um evento que mobiliza investimentos de R$ 30 milhões, realizado na maior e mais rica cidade do País. Parece que o nosso famigerado complexo de vira-lata, identificado há anos por Nelson Rodrigues, contra-atacou. Pior. Está se alastrando como uma epidemia em aéreas que nasceram em berço de ouro, como a arte. 

 

A Bienal não consegue nem mesmo segurar o número de pessoas de uma mostra para a outra, que vem caindo a cada edição. Depois do número recorde de 2004, de 917 mil visitantes, as duas edições seguintes não passaram de 670 mil pessoas. Para se ter uma ideia, o Metropolitan Museum of Art, de Nova York, recebe, só na semana entre o Natal e o Ano-Novo, cerca de 160 mil pessoas. 

 

Isso é quase 30% de todo o público da última Bienal. A Fórmula 1, em quatro dias, movimenta quase o dobro de dinheiro em relação à Bienal. Será que São Paulo está precisando do toque de Midas da Fundação Guggenheim? A cidade espanhola de Bilbao, que só figurava no mapa da produção de minério de ferro – e olhe lá –, reverteu a sua situação graças à imponente estrutura de titânio do Museu Guggenheim, inaugurado no lugar em 1997. 

 

Hoje a cidade é parada obrigatória de qualquer roteiro de intelectual ou apreciador de arte que se preze. Atualmente, agências de turismo brasileiras ganham dinheiro vendendo pacotes específicos para os amantes de arte. Mas no Exterior. Ou seja, há um mercado a ser explorado pelos que sentem mais do que curiosidade por um apanhado de obras de amalucados desconhecidos.