Após um longo período de baixa, cujo princípio coincidiu com o início da crise imobiliária americana de 2008, o mercado para obras de arte da América Latina voltou a mostrar sinais de aquecimento. E, em maio, será possível calcular exatamente quanto essa temperatura já subiu. O óleo sobre tela “Os Rivais”, do mexicano Diego Rivera (1886-1957), uma das principais pinturas do artista conhecido por seus murais (e por seu relacionamento conturbado com Frida Kahlo) será leiloado na Christie’s em Nova York.

O quadro, que nunca havia ido a leilão antes, pertence à coleção de Peggy e David Rockefeller. Os colecionadores americanos, já falecidos, eram amigos do artista, apesar das diferenças ideológicas. Ambos eram líderes republicanos, ao passo que Rivera era membro do Partido Comunista no México. A distância das ideias não impediu os Rockefeller, que criaram uma dinastia nas finanças, de adquirir desenhos e gravuras do artista, e de contratá-lo para pintar um mural no Rockefeller Center, em Nova York. “Os Rivais”, a mais importante das telas de Rivera, terá um preço inicial entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões (R$ 16 milhões e R$ 23 milhões).

Se confirmado, esse preço pode equiparar-se ao recorde registrado por “Dois nus no bosque”, de Frida Kahlo (1907-1954), que atingiu US$ 8 milhões (R$ 26,6 milhões) em um leilão na Christie’s, em maio de 2016. No leilão, os lances começaram em
US$ 5 milhões, mas ficaram abaixo do máximo previsto, que era de US$ 12 milhões. O recorde anterior havia sido estabelecido oito anos antes com “O Trovador”, do também mexicano Rufino Tamayo (1899-1991) vendido por US$ 7,2 milhões (R$ 23,9 milhões). Esses números ainda são bem superiores ao recorde para os pintores brasileiros, que permanece com “Meu Limão” obra da brasileira Beatriz Milhazes, vendida em 2012 por US$ 2,1 milhões (R$ 6,9 milhões).

Recorde permanece com “Dois nus no bosque”, de Frida Kahlo, vendido por US$ 8 milhões em 2016

Quem acompanha os altos e baixos do pouco líquido mercado de arte não se surpreende com os preços elevados para os artistas latinos. Após quase sete anos em baixa, a arte da região voltou a atrair a atenção dos investidores. Prova disso é a exposição de Tarsila do Amaral no Museu de Arte Moderna (MoMA) em Nova York, inaugurada em fevereiro deste ano e que deve durar até junho. “A arte brasileira está recuperando seu momento”, avalia Nicolette Lizou, da consultoria canadense Blouin Art Info. Não há números consolidados, mas, segundo estimativas dos especialistas, os preços dos artistas latino-americanos menos conhecidos chegaram a recuar 60% em relação aos níveis máximos de 2012. Agora, nota-se uma lenta reversão nesse sentido. O investimento em obras de arte requer tempo e paciência, pois o negócio é restrito a poucos colecionadores, não há transparência nos preços e é preciso tomar cuidado com falsificações. Mesmo assim, é possível voltar a olhar esse mercado, que está mostrando sinais de normalização.

Imediatamente após a crise, museus e colecionadores particulares tiveram de se desfazer de seus acervos. Isso trouxe obras consagradas para o mercado, mas também derrubou as cotações dos artistas menos conhecidos ou ainda vivos. “Nos últimos tempos, os compradores se concentraram nas obras mais conhecidas, seus preços se mantiveram estáveis, mas os artistas mais jovens se desvalorizaram”, diz o consultor americano Marc Straus, colecionador de arte brasileira. Sua aquisição mais recente é uma obra da paulista Paloma Bosque, nascida em 1982, para ele um dos nomes mais promissores da safra recente de artistas. “Agora, há boas oportunidades na compra dessas obras, cujo preço deve começar a mostrar uma recuperação.”