Armínio Fraga está com a vida feita. No campo econômico, querem eternizá-lo na presidência do Banco Central. No campo político, já há até quem o contemple na cadeira de presidente da República. Na semana passada, só faltou quem o incluísse, com seus olhos verdes e cavanhaque bem aparado, numa lista de homens mais bonitos do País. Mas isso não é o mais importante. Cada vez mais, a força de Fraga extrapola as paredes escuras da sede do BC, em Brasília, e se espraia, até além das fronteiras brasileiras: o economista de vastas ligações no mundo das finanças internacionais participou da formulação do pacote de socorro do FMI à Argentina. Por aqui, detém poder sobre o Orçamento da União e, agora, comanda a reforma do BC.

Os atributos de Fraga o colocaram dentro da roda política, lançado à disputa presidencial de 2002 em meio a uma disputa interna no PFL. O autor da idéia, Jorge Bornhausen, soltou o balão e espera para ver onde ele pode chegar. Com um ?nem me falem neste assunto?, o próprio Fraga tentou apagar a tocha, mas ele não consegue deixar de ser uma peça importante no jogo do poder. Dentro do governo, ele é visto como o homem capaz de tornar real uma ambição do Planalto: a de perpetuar a atual política econômica para além do mandato de FHC.

A reforma do Banco Central também atende a um desejo do mercado. No último dia 6, o presidente do Citibank no Brasil, Alcides Amaral, disse ao presidente Fernando Henrique que o BC não deve ficar sujeito ao sabor das mudanças políticas e defendeu sua independência. Amaral nem precisou ir muito longe em suas explicações. O presidente concordou e respondeu: ?Pode estar certo que estamos trabalhando nisso?. E é Fraga que está com essa tarefa. Sua idéia é fazer com que o Banco Central brasileiro adote o modelo inglês.

Com isso, o BC ficaria responsável apenas pela execução da política monetária e pela fiscalização dos bancos. Todas as outras funções caberiam a uma agência reguladora. Para colocar seu plano em prática, Fraga procurou nos últimos dias o senador Paulo Hartung (PPS-ES), um velho defensor da reforma do BC. Hartung tem um projeto já tramitando no Senado que se encaixa nos propósitos do Executivo. A intenção é inserir no projeto as idéias que estão na cabeça do governo. Isso seria apresentado no substitutivo de José Fogaça (PMDB-RS), relator na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

A oposição, no entanto, está preocupada com o uso político da proposta. ?O governo iniciou uma manobra oportunista para perpetuar a atual política monetária mesmo se vencer um governo de oposição?, diz Guido Mantega, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e assessor especial de Luís Inácio Lula da Silva. ?Se a oposição vencer as eleições em 2002, haverá um choque entre as propostas do novo Ministério da Fazenda com as antigas idéias do Banco Central.? Fraga rebate a tese, mas não deixa de defender a independência do banco. ?Se o BC não for bem administrado, fará um mal danado à sociedade?, disse.

A atuação do presidente do BC não tem se restringido somente à reforma da instituição. Nas últimas semanas, tem transitado por diversas áreas. Na Comissão Mista do Orçamento, por exemplo, convenceu os parlamentares a não aumentar as estimativas de receita do governo para o próximo ano. ?Até seis meses atrás, eu tinha convicção de que a economia iria crescer 5% no ano que vem. Com toda a franqueza, acho que 4,5% é um número justo?, disse aos parlamentares. O presidente do BC também foi um dos principais incentivadores do socorro do FMI à Argentina. Durante a negociações do pacote, Fraga usou vários argumentos para convencer os burocratas de Whashington sobre a necessidade e o tamanho da ajuda ao vizinho. Resultado: o País deve receber nos próximos dias uma quantia de cerca de US$ 25 bilhões.