Os fabricantes de armas de fogo dos EUA produziram mais de 139 milhões de armas para o mercado comercial nas últimas duas décadas, incluindo 11,3 milhões apenas em 2020 – revela um relatório do governo.

Outros 71 milhões foram importados no mesmo período, em comparação com apenas 7,5 milhões exportados.

Estes números indicam que a população americana está, literalmente, nadando em armas pessoais, o que levou a um aumento da violência armada, dos assassinatos e dos casos de suicídio, de acordo com o relatório do Departamento de Justiça.

O documento mostra que, embora os americanos continuem preferindo os fuzis de assalto semiautomáticos – vistos em muitos tiroteios em massa -, têm comprado cada vez mais pistolas semiautomáticas de 9 mm.

Cada vez mais baratas, fáceis de usar e precisas, elas são agora usadas pela maioria das forças policiais.

Além disso, as autoridades enfrentam um aumento das “armas-fantasma” – aquelas não registradas, fabricadas em casa com peças que podem ser compradas on-line e produzidas com uma impressora 3D -, assim como de pistolas e rifles de cano curto que são tão potentes e letais quanto fuzis de assalto semiautomáticos.

“Podemos abordar o presente aumento da violência apenas se tivermos as melhores informações disponíveis e usarmos as ferramentas e a investigação mais eficazes para potencializar nossos esforços”, disse a vice-procuradora-geral, Lisa Monaco.

“Este relatório é um passo importante nessa direção. O Departamento continuará reunindo as informações necessárias para ajustar nossa abordagem aos fatores mais significativos da violência com armas de fogo e tirar os atiradores das ruas”, acrescentou.

O relatório foi publicado após um fim de semana em que ficou claro o impacto das armas de fogo na sociedade americana. Em Buffalo, no estado de Nova York, um jovem branco de 18 anos, motivado pelo ódio racista, assassinou dez afro-americanos com um fuzil de assalto.

Em Laguna Woods, na Califórnia, um homem atirou em cinco pessoas com uma pistola 9 mm em uma igreja frequentada por taiwaneses. E, em Milwaukee, no estado de Wisconsin, mais de 20 pessoas ficaram feridas em tiroteios em uma área de lazer e entretenimento do centro da cidade.

Na semana passada, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) disseram que o número de mortes por armas de fogo nos Estados Unidos sofreu um aumento “histórico” em 2020.

No referido ano, houve 19.350 homicídios com armas de fogo, o que representou um aumento de quase 35% em relação a 2019, e 24.245 suicídios com armas, +1,5% na comparação com o mesmo período anterior. A taxa de homicídios por armas de fogo ficou em 6,1 por cada 100.000 habitantes em 2020, mais alta em 25 anos.

Enquanto isso, a indústria de armas explodiu nas últimas duas décadas. Em 2000, havia 2.222 fabricantes ativos registrados. Em 2020, o número escalou para 16.936.

Da mesma forma, a produção anual de armas comerciais deslanchou: de 3,9 milhões, em 2000, pulou para 11,3 milhões, 20 anos depois. Sofreu, contudo, uma leve queda em comparação aos 11,9 milhões de 2016.

Armas de fogo de fabricantes oficiais devem ter números de série que permitam seu rastreamento por parte da polícia. Nesse sentido, as autoridades manifestam crescente preocupação com as “armas-fantasma” caseiras. Elas não têm número de série e são cada vez mais usadas pelos criminosos.

Em 2021, ainda conforme o documento, as autoridades recuperaram 19.344 “armas-fantasma”, contra 1.758 cinco anos antes.

Em abril, o presidente americano, Joe Biden, anunciou medidas contra as “armas-fantasma”, pondo um freio nos grupos pró-armas que classificaram suas ideias de “extremas”.

“É extremo proteger agentes policiais, é extremo proteger nossas crianças? (…) Não é extremo, é básico, senso comum”, disse Biden.