O pagamento, nesta sexta-feira (27), de um vencimento da dívida da Argentina com o FMI de mais de 700 milhões de dólares depende do avanço das negociações com o organismo multilateral para um novo programa creditício, disse nesta quinta-feira (27) a porta-voz da Presidência, Gabriela Cerruti.

“O pagamento depende de como vão avançar as negociações” e são o presidente Alberto Fernández e o ministro da Economia, Martín Guzmán “os que têm o momento exato” no qual se encontram as tratativas, declarou a porta-voz durante uma coletiva de imprensa.

O vencimento desta sexta-feira soma-se a outro em 1º de fevereiro de 370 milhões de dólares.

A Argentina busca um novo acordo com o FMI para refinanciar o empréstimo de 44 bilhões de dólares, concedido em 2018. Segundo o calendário atual, o país deve pagar cerca de 19 bilhões de dólares este ano, outros US$ 20 bilhões em 2023 e mais de US$ 4 bilhões em 2024.

“Estamos discutido com muita intensidade e muita vocação e vontade para alcançar um acordo. É uma negociação que tem momentos, do dia a dia, da hora a hora, como estes”, detalhou Cerruti.

Segundo o governo, a via fiscal é o principal entrave às negociações, pois a Argentina se recusa a reduzir o déficit (3% do PIB em 2021) com um corte nos gastos públicos.

“Não vamos chegar a nenhum acordo que comprometa a via do crescimento” – estimado pelo governo em 4% para este ano e em 3% pelo FMI, depois que em 2021 a economia cresceu 10% -, acrescentou.

A Argentina enfrenta problemas de inflação alta (50% ao ano) e a pobreza, que afeta cerca de 40% da população.

Nesta quinta, partidos de esquerda se manifestaram em Buenos Aires contra os pagamentos ao FMI com uma marcha de quinhentas pessoas que chegou à sede da Presidência.

“A dívida é uma fraude, ilegítima e odiosa. É preciso suspender todo pagamento. Estes bilhões têm que ser destinados para resolver os problemas estruturais do país. Sofremos com uma pobreza crescente, com uma crise econômica, social e sanitária. Hoje mais do que nunca faz falta tomar uma medida soberana, que é deixar de pagar essa fraude”, disse à AFP Celeste Fierro, dirigente da Frente de Esquerda Unida.

Em 2018, o FMI concedeu à Argentina, durante o governo do liberal Mauricio Macri (2015-19), um empréstimo de 57 bilhões de dólares em meio a uma crise monetária, mas o país só recebeu US$ 44 bilhões, pois Fernández recusou as parcelas pendentes ao assumir o cargo, em dezembro de 2019.

Na prática sem acesso aos mercados internacionais de crédito, a Argentina tem pouco menos de 39 bilhões de dólares em reservas brutas, mas analistas estimam que as reservas líquidas estejam abaixo de US$ 4 bilhões. Alguns consideram que estão zeradas.