A Argentina formalizou nesta terça-feira (7) sua nova oferta de troca de títulos por cerca de 66 bilhões de dólares e o ministro da Economia, Martín Guzmán, anunciou que o governo está disposto a fechar um acordo mesmo com uma parte dos credores.

Após a apresentação da emenda à sua proposta inicial nesta terça-feira perante a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), os credores do país sul-americano terão até 4 de agosto às 17H00 de Nova York para aceitar a oferta para a troca desses títulos emitidos sob legislação estrangeira.

“A Argentina também está considerando a possibilidade de não resolver tudo e resolver uma boa parte. Vamos considerar fechar com uma parte acertada”, disse Guzmán à Radio Con Vos.

Com a emenda, a Argentina oferece pagar uma média de US$ 53,5 por US$ 100 emprestados, em comparação com a oferta anterior, de US$ 39 por 100, que foi rejeitada pelos credores.

O período de carência foi reduzido de três para um ano, e a Argentina começaria a pagar vencimentos em setembro de 2021.

– “Último esforço” –

A oferta “é sustentável porque as taxas de juros diminuem significativamente (de 7% para 3%). Essa é a última proposta, o último esforço que fazemos”, disse o chefe de gabinete, Santiago Cafiero.

O Fundo Monetário Internacional considerou a nova oferta como “uma etapa importante no processo de reestruturação da dívida com credores privados”.

“Esperamos que todas as partes envolvidas continuem a trabalhar de forma construtiva e oportuna, com o objetivo de chegar a um acordo que estabeleça a dívida pública em um caminho sustentável e estabeleça as bases para um crescimento inclusivo e duradouro”, disse Gerry Rice, porta-voz da agência multilateral.

A Argentina está em recessão desde 2018 e sua economia sofrerá ainda mais este ano como resultado da pandemia de coronavírus.

O FMI estima que o Produto Interno Bruto argentino contratará 9,9% em 2020. Se conseguir um acordo, o país, a terceira maior economia da América Latina, emergirá da inadimplência em maio, ao não pagar cerca de US$ 500 milhões em juros sobre três dos títulos sujeitos ao swap.

– Blackrock –

Nas negociações, a Argentina encontrou forte resistência do poderoso fundo de investimentos Blackrock, que quer um pagamento mais alto.

“Esperamos que nos próximos dias haja um comunicado contrário e que eles levem tempo para decidir. Houve um diálogo com esse setor, mas não concordamos. Nossa intenção é chegar a um acordo com o BlackRock, não queremos confrontar”, disse Guzmán.

O ministro encorajou os credores a aderir ao swap agora e alertou que mais tarde as condições do país serão piores.

“Estamos em uma situação de dupla crise: crise macroeconômica, que o país já vive desde abril de 2018, e crise dos coronavírus. Pensamos que a capacidade de pagamento será melhor se esperarmos para resolver os problemas? A verdade é que não. Uma oferta bastante razoável foi feita aqui e é do melhor interesse de todas as partes fechar o acordo”, disse.

Uma recusa pelo Blackrock seria ruim, mas, apesar da dureza demonstrada nas negociações, nesta ocasião não há fundos especulativos que gostariam de levar o assunto à justiça, como aconteceu em 2014, disse à AFP Matías Rajnerman, economista-chefe da Ecolatina.

“O Blackrock não é um ‘fundo abutre’. Não quer um acordo como o que está sendo colocado. Mas a US$ 60 por 100, ou com algum outro valor, ele fecha acordo”, afirmou.

“Se ficar de fora do swap, terá que continuar negociando e então ou a Argentina melhora a proposta em algum momento ou o Blackrock desiste, o que ocorrer primeiro”, avalia Rajnerman.

Os títulos que a Argentina busca renegociar incluem os emitidos em 2005 e 2010, em uma reestruturação anterior da dívida, além de outros que colocou a partir de 2016. Os novos títulos decorrentes do swap expirarão entre 2030 em 2046.

A Argentina ainda precisa reestruturar a dívida emitida de acordo com a legislação local e com organizações internacionais.

A dívida pública da Argentina é de cerca de 324 bilhões de dólares, quase 90% do PIB.