Os argelinos elegem nesta quinta-feira (12) o sucessor do presidente Abdelaziz Buteflika, em um dia marcado por uma manifestação maciça em Argel contra as eleições, consideradas uma manobra de sobrevivência do regime.

Dezenas de milhares de argelinos foram às ruas da capital, Argel, para protestar contra a votação. A Polícia interveio rápida e violentamente para dispersar os manifestantes, constataram jornalistas da AFP.

Os manifestantes conseguiram romper o isolamento da Polícia para fechar o acesso ao cruzamento da Grande Poste, local simbólico do “Hirak”, mobilização sem precedentes que sacode a Argélia desde fevereiro.

Agora, o “Hirak” exige o desmantelamento do conjunto do sistema político, no poder desde a independência em 1962, e estas eleições presidenciais, segundo eles, o que pretende é manter o status quo.

Às 17h locais (13h de Brasília), a participação era de 33,06%, segundo o presidente da Autoridade Nacional Independente das eleições (Anie), Mohamed Charfi. Nas eleições anteriores, em 2014, a participação tinha sido de 37,06% na mesma hora e acabou sendo de 50,7% ao final do dia de votação.

Charfi estimou que a participação nesta quinta-feira se aproximaria ou passaria de 50%.

As seções eleitorais fecharam às 19h (15h de Brasília), mas até o momento nenhuma cifra provisória foi informada.

– Incidentes em Cabilia –

Charfi também saudou o bom desenrolar das eleições em “95% dos centros de votação”.

No entanto, em várias seções na região de Cabilia (norte), as votações registraram muitos incidentes e em alguns locais tiveram que ser suspensas. Além disso, um centro foi saqueado por críticos destas eleições, segundo fontes de segurança.

Nas cidades de Tizi-Ouzou e Bouira, ambas na Cabilia, a votação foi totalmente suspensa, segundo várias fontes. Em Tizi-Ouzou, a polícia disparou gás lacrimogêneo contra manifestantes que tentavam invadir a sede do governo regional.

Em Bouira, 80 km a sudeste de Argel, o escritório da agência responsável pela organização e supervisão da votação foi saqueado e todos os centros de votação tiveram que ser fechados, disse um jornalista local à AFP.

Imagens que circularam por redes sociais mostravam jovens em diferentes localidades do país rasgando listas eleitorais e cédulas depositadas nas urnas, com o fim de boicotar a votação.

Em Cabilia mora a maior parte da minoria berbere da Argélia, que representa um quarto da população do país, ou seja, dez milhões de pessoas. Nas principais cidades desta região, a participação nas eleições foi quase nula.

– “Filhos do sistema” –

O alto comando do exército, que assumiu abertamente o poder desde a demissão de Buteflika, quer eleger um sucessor para superar a crise político-institucional em que o país se encontra, agravada pela difícil situação econômica.

O general Ahmed Gaid Salah, chefe de estado-maior e a face conhecida do alto comando militar, não quer ser considerado responsável pelas perspectivas econômicas cada vez mais negativas deste extenso país norte-africano de 40 milhões de habitantes, afirmam analistas.

Os cinco candidatos à presidência (Abdelaziz Belaid, Ali Benflis, Abdelkader Bengrina, Azzedine Mihubi e Abdelmajid Tebbune) viveram uma campanha eleitoral muito complicada e frequentemente foram recebidos de forma hostil.

Todos são considerados pelos manifestantes como “filhos do sistema” por seu papel durante a Presidência de Buteflika – dois foram seus primeiros-ministros e outros dois, ministros – e são criticados por continuarem a apoiar o regime ao se candidatarem para as eleições.

Se houver segundo turno, ela ocorrerá nas próximas semanas.

Os centros de votação argelinos no exterior, onde a eleição começou no sábado, ficaram praticamente vazios, e os escassos eleitores foram vaiados.

Na quarta-feira, várias personalidades próximas a “Hirak” alertaram para o contexto de “grandes tensões” em que se celebra a eleição. Pediram para que “mantenham a calma e para não responder às provocações nem impedir os demais cidadãos a exercerem seu direito a se expressar livremente”.

Os analistas já destacam a ausência de legitimidade do futuro presidente, que sucederá oficialmente o chefe de Estado interino, Abdelkader Bensalah. E prevê que prosseguirão os protestos e as manifestações.

Um cartaz em Argel resumia o estado de ânimo geral: “Como confiar em quem traiu o país e ajudou Buteflika?”.