Depois de uma campanha apagada, mais de 23 milhões de argelinos são convocados neste sábado (27) para as eleições locais consideradas cruciais para o poder virar a página ao final do turbulento mandato do ex-presidente Abdelaziz Buteflika

Apesar da campanha oficial exortar os cidadãos a “deixarem a sua marca”, a eleição dos conselhos municipais e provinciais gerou pouco interesse, com poucos cartazes nas ruas e comícios em locais fechados e com candidatos pouco ativos.

Os observadores preveem uma baixa participação em consonância com as outras eleições realizadas desde os protestos pró-democracia do movimento Hirak em 2019 que destituiu o presidente de longa data Buteflika, falecido em setembro aos 84 anos.

É a terceira votação organizada sob a presidência de Abdelmadjid Tebboune, que se comprometeu a reformar todas as instituições herdadas dos 20 anos de Buteflika no poder.

Eleito em dezembro de 2019 com 58% dos votos e uma participação de apenas 40%, Tebboune afirmou no último encontro do Partido da independência argelina, em 5 de junho, que a sua intenção era seguir o caminho do “autêntico Hirak”.

– Slogans para mudança –

Nesta terceira tentativa de aumentar a participação dos eleitores espera-se um maior fluxo às urnas, com mais de 34 mil candidatos aos conselhos de 1.541 municípios e 58 prefeituras, dos quais apenas 15% são mulheres, segundo a Autoridade Eleitoral Nacional Independente.

A campanha teve um perfil muito baixo. Para Redouane Boudjemaa, professor de jornalismo da Universidade de Argel, a votação é simplesmente “uma tentativa de limpar a fachada dos conselhos locais, mudando seus membros para beneficiar a classe dominante”.

“A política neste momento se limita a slogans proclamando que o país entrou em uma nova era, quando todos os indicadores apontam o contrário”, acrescenta.

A elite no poder na Argélia desde sua independência da França em 1962 fala em “mudança”, mas “impõe sua agenda” sem envolver o resto das forças políticas, diz o analista Mohamed Hennad.

Na verdade, parte da oposição vai boicotar essas eleições, como já aconteceu em ocasiões anteriores.

Também na região da Cabília, em tensas relações com o governo central, (partidos de oposição) possam boicotar as eleições, embora desta vez o comparecimento tende a aumentar devido à apresentação de candidatos da Frente de Forças Socialistas, o mais antigo e forte partido da oposição nesta área.