Os chefes da diplomacia da Argélia, Ramtane Lamamra, e do Marrocos, Nasser Bourita, trocaram críticas ácidas nesta segunda-feira (27) na tribuna da Assembleia Geral da ONU pela diferença que mantêm sobre o Saara Ocidental, após terem rompido relações diplomáticas.

“A organização de um referendo livre e justo para permitir a este povo corajoso determinar seu destino e decidir seu futuro político, pois não pode continuar sendo para sempre refém da intransigência de um Estado ocupante que descumpriu em várias ocasiões suas obrigações internacionais”, disse o primeiro-ministro argelino.

“O direito do povo saarauí à autodeterminação é inalienável e imprescritível”, insistiu o ministro argelino, ao assegurar que seu país só busca trabalhar pela “paz e a cooperação” na região.

Para o chefe da diplomacia marroquina, que falou em mensagem gravada em vídeo, “a calma reina atualmente no Saara”. Ao se referir às recentes eleições no Saara Ocidental, com uma “participação recorde”, Bourita avaliou que isto “prova que os moradores do Saara marroquino estão muito vinculados à integridade territorial no seio do Marrocos”.

A Argélia, “responsável pela criação e pela continuidade deste conflito”, deve “assumir totalmente suas responsabilidades”, acrescentou antes de exigir, em alusão aos separatistas da Frente Polisário estabelecidos em território argelino, que a Argélia pare de proteger “um grupo armado separatista em violação flagrante do direito internacional”, segundo o chanceler marroquino.

No fim de agosto, a Argélia rompeu relações diplomáticas com o Marrocos, devido a “ações hostis” do reino, uma decisão “totalmente injustificada” e lamentada por Rabat. Em 22 de setembro, a Argélia decretou o fechamento imediato de seu espaço aéreo aos aviões marroquinos.

O conflito no Saara Ocidental opõe o Marrocos e os separatistas da Frente Polisário, apoiada pela Argélia, desde que a Espanha deixou a colônia em 1976.

As negociações sob a égide da ONU entre o Marrocos e a Polisário, das quais participaram Argélia e Mauritânia, estão paradas desde a primavera de 2019, com a demissão do emissário da ONU encarregado deste dossiê, o ex-presidente alemão Horst Kohler.

De acordo com vários diplomatas, após uma dezena de candidatos para assumir o posto, o Marrocos acabou aceitando, em meados de setembro, sob pressão dos Estados Unidos, a nomeação do ítalo-sueco Staffan de Mistura como novo emissário da ONU, embora ainda não tenha sido oficializado.