Mato Grosso do Sul se tornou o oásis brasileiro das florestas plantadas, com 263 mil hectares dedicados à atividade, a maior área do País e também a que mais avança. Só os campos de eucalipto têm crescido 14% ao ano na última década. Para o secretário estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, é o “vale da celulose no mundo”. Essa condição ajuda a fazer do Brasil uma potência mundial em celulose e atrai investimentos. O Grupo Arauco assinou um termo de acordo com o governo estadual para construir uma fábrica de celulose na cidade de Inocência. O valor: US$ 3 bilhões.

A Arauco opera no Brasil desde 2002, no segmento de madeiras, e tem cinco plantas industriais – quatro no Paraná e uma no Rio Grande do Sul – com área plantada de 114 mil hectares e produção anual de 2,3 milhões de metros cúbicos. A entrada no setor de celulose vem sendo estudada há cinco anos e é parte da estratégia para fortalecer a participação brasileira nos negócios do grupo. Os números são portentosos. Operações em 11 países e 900 mil hectares de florestas plantadas. A produção anual é de 5,2 milhões de toneladas de celulose, 3,7 milhões de metros cúbicos de madeira sólida e 9 milhões de metros cúbicos de paineis.

A perspectiva é de começar as obras em 2025 e a operação, em 2028, com produção anual de 2,5 milhões de toneladas de celulose. A área ocupada pela fábrica terá 300 hectares, e a de florestas para abastecê-la, 380 mil hectares. Para garantir matéria-prima na largada da produção, a empresa já tem 40 mil hectares cultivados com eucalipto na região e que hoje abastecem outras empresas do setor. O eucalipto demora no mínimo sete anos para chegar ao ponto de corte.

PLANEJAMENTO Segundo Mário Neto, da Arauco, entrada da empresa no mercado brasileiro de celulose vem sendo estudado há cinco anos. (Crédito:Divulgação)

ESTRATÉGIA A escolha de Inocência para a instalação da nova unidade da Arauco tem várias justificativas. Uma delas, segundo o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da empresa, Mário José de Souza Neto, é o fato de os campos serem planos. “Isso facilita o cultivo e a colheita das florestas”, afirmou. Também favorecem o clima quente e a disponibilidade de água. Não por acaso, outras grandes empresas do setor, como Suzano e Eldorado Brasil, já estão por ali por perto. Outro fator positivo é a proximidade com hidrovias e ferrovias de bitola larga, pois 95% da produção será exportada para a China.

O executivo da Arauco destaca ainda a política local de estímulo ao setor, como o Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável de Florestas do Estado de Mato Grosso do Sul (Profloresta), lançado no fim de maio. Para Mário Neto, a iniciativa está alinhada com o conceito de sustentabilidade da empresa, que, segundo ele, em 2018 se tornou a primeira companhia do setor no mundo a empregar um método de neutralidade de carbono nos produtos florestais, “com validação da consultoria global Deloitte e auditoria da Price Waterhouse”.

A fábrica da Arauco em Inocência já nasce sob esse conceito de sustentabilidade, e vai adiante. Além da celulose, a unidade vai gerar energia a partir do reaproveitamento de biomassa, como cascas, lignina e outros insumos. A capacidade de produção será de 400 MW, dos quais 200 MW abastecerão a própria indústria e os 200 MW excedentes irão para o mercado livre. “Quando se coloca essa energia no grid e ampliamos o abastecimento, ajudamos a evitar preços mais altos”, disse Mário Neto. Atualmente, o grupo gera 780 MW de energia limpa.

O projeto ainda depende de aprovação do licenciamento ambiental, avaliação da oferta de madeira e confirmação do investimento por parte do board. Se tudo correr como planejado, até julho de 2024 essas etapas estarão concluídas, mantendo a programação do início das obras no ano seguinte. Enquanto isso, a empresa avaliará o impacto na cidade, até para preparar e capacitar a comunidade para receber o projeto, pois será também uma oportunidade. “A formação de florestas e a logística são importantes, mas são variáveis do negócio, agora com as pessoas precisamos estabelecer esse diálogo”, afirmou Mário Neto.