08/07/2022 - 5:00
Mato Grosso do Sul se tornou o oásis brasileiro das florestas plantadas, com 263 mil hectares dedicados à atividade, a maior área do País e também a que mais avança. Só os campos de eucalipto têm crescido 14% ao ano na última década. Para o secretário estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, é o “vale da celulose no mundo”. Essa condição ajuda a fazer do Brasil uma potência mundial em celulose e atrai investimentos. O Grupo Arauco assinou um termo de acordo com o governo estadual para construir uma fábrica de celulose na cidade de Inocência. O valor: US$ 3 bilhões.
A Arauco opera no Brasil desde 2002, no segmento de madeiras, e tem cinco plantas industriais – quatro no Paraná e uma no Rio Grande do Sul – com área plantada de 114 mil hectares e produção anual de 2,3 milhões de metros cúbicos. A entrada no setor de celulose vem sendo estudada há cinco anos e é parte da estratégia para fortalecer a participação brasileira nos negócios do grupo. Os números são portentosos. Operações em 11 países e 900 mil hectares de florestas plantadas. A produção anual é de 5,2 milhões de toneladas de celulose, 3,7 milhões de metros cúbicos de madeira sólida e 9 milhões de metros cúbicos de paineis.
A perspectiva é de começar as obras em 2025 e a operação, em 2028, com produção anual de 2,5 milhões de toneladas de celulose. A área ocupada pela fábrica terá 300 hectares, e a de florestas para abastecê-la, 380 mil hectares. Para garantir matéria-prima na largada da produção, a empresa já tem 40 mil hectares cultivados com eucalipto na região e que hoje abastecem outras empresas do setor. O eucalipto demora no mínimo sete anos para chegar ao ponto de corte.
ESTRATÉGIA A escolha de Inocência para a instalação da nova unidade da Arauco tem várias justificativas. Uma delas, segundo o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da empresa, Mário José de Souza Neto, é o fato de os campos serem planos. “Isso facilita o cultivo e a colheita das florestas”, afirmou. Também favorecem o clima quente e a disponibilidade de água. Não por acaso, outras grandes empresas do setor, como Suzano e Eldorado Brasil, já estão por ali por perto. Outro fator positivo é a proximidade com hidrovias e ferrovias de bitola larga, pois 95% da produção será exportada para a China.
O executivo da Arauco destaca ainda a política local de estímulo ao setor, como o Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável de Florestas do Estado de Mato Grosso do Sul (Profloresta), lançado no fim de maio. Para Mário Neto, a iniciativa está alinhada com o conceito de sustentabilidade da empresa, que, segundo ele, em 2018 se tornou a primeira companhia do setor no mundo a empregar um método de neutralidade de carbono nos produtos florestais, “com validação da consultoria global Deloitte e auditoria da Price Waterhouse”.
A fábrica da Arauco em Inocência já nasce sob esse conceito de sustentabilidade, e vai adiante. Além da celulose, a unidade vai gerar energia a partir do reaproveitamento de biomassa, como cascas, lignina e outros insumos. A capacidade de produção será de 400 MW, dos quais 200 MW abastecerão a própria indústria e os 200 MW excedentes irão para o mercado livre. “Quando se coloca essa energia no grid e ampliamos o abastecimento, ajudamos a evitar preços mais altos”, disse Mário Neto. Atualmente, o grupo gera 780 MW de energia limpa.
O projeto ainda depende de aprovação do licenciamento ambiental, avaliação da oferta de madeira e confirmação do investimento por parte do board. Se tudo correr como planejado, até julho de 2024 essas etapas estarão concluídas, mantendo a programação do início das obras no ano seguinte. Enquanto isso, a empresa avaliará o impacto na cidade, até para preparar e capacitar a comunidade para receber o projeto, pois será também uma oportunidade. “A formação de florestas e a logística são importantes, mas são variáveis do negócio, agora com as pessoas precisamos estabelecer esse diálogo”, afirmou Mário Neto.