A Arábia Saudita autorizou nesta quarta-feira (2) a passagem pelo seu espaço aéreo de aviões com origem e destino aos Emirados Árabes Unidos, de todos os países, dois dias após o primeiro voo comercial direto entre Tel Aviv e Abu Dhabi, que cruzou o reino.

Esta decisão “vai permitir a passagem pelo espaço aéreo do reino de voos de e para os Emirados Árabes Unidos de e para todos os países”, afirmou a Autoridade Geral de Aviação Civil, citada pela agência oficial de imprensa saudita.

Na segunda-feira, uma delegação americano-israelense visitou Abu Dhabi a bordo de um avião que fazia um voo direto entre Israel e os Emirados, duas semanas após o anúncio da normalização das relações entre os dois países.

A aeronave da empresa israelense El Al sobrevoou o território saudita, impedindo-a de fazer um longo desvio na península Arábica, embora Riade não mantenha relações oficiais com Israel.

As autoridades sauditas têm insistido repetidamente na necessidade de resolver o conflito israelense-palestino antes de normalizar as relações com Israel.

“A posição firme e permanente do reino em relação à causa palestina não mudará com a autorização do sobrevoo de seu espaço aéreo”, tuitou o chanceler saudita, príncipe Fayçal bin Farhan, nesta quarta-feira.

Durante a visita da delegação israelense-americana a Abu Dhabi na segunda e terça-feiras, os representantes dos três países concordaram em desenvolver cooperação em diversos campos.

Hoje, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, confirmou relatos da imprensa sobre voos diretos entre Israel e os Emirados.

“Aviões israelenses e de todos os países poderão voar diretamente de Israel para Abu Dhabi e Dubai, e retornar”, disse Netanyahu em um curto vídeo.

O acordo para normalizar as relações entre Emirados e Israel, negociado pelos Estados Unidos, foi denunciado pelos palestinos, que o descreveram como uma traição à sua causa.

– “Aquecimento” –

Apesar de sua posição firme, a Arábia Saudita cultivou relações clandestinas com Israel nos últimos anos, principalmente sob a influência do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, que é muito próximo do xeque Mohamed bin Zayed, um homem forte dos Emirados.

A inimizade comum dos três países ao Irã, assim como as tentativas sauditas de atrair investimentos estrangeiros para financiar seu projeto de diversificação econômica, pareciam empurrar o reino para mais perto de Israel.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu governo esperam que outros países sigam os passos de Abu Dhabi, especialmente a Arábia Saudita, o peso-pesado da região e principal potência econômica do mundo árabe.

“O anúncio de hoje indica um aquecimento nas relações entre a Arábia Saudita e Israel”, disse à AFP Marc Schneier, um rabino americano próximo aos países do Golfo.

“Embora [os sauditas] ainda estejam profundamente comprometidos com o povo palestino, este primeiro passo é importante e deve ser comemorado”, acrescentou.

Em março de 2018, a Air India lançou o primeiro serviço de voo programado para Israel, autorizado a cruzar o espaço aéreo saudita.

Fiel ao seu cobiçado status de líder do mundo muçulmano, a Arábia Saudita, que abriga os locais mais sagrados do Islã, está em uma posição mais delicada do que os Emirados.

Turquia e Irã, seus rivais regionais, denunciaram claramente o acordo Emirados Árabes Unidos-Israel.

Em 2002, a Arábia Saudita patrocinou a Iniciativa de Paz Árabe que pedia a retirada completa de Israel dos territórios palestinos ocupados desde 1967, bem como uma solução justa para a situação dos refugiados palestinos, em troca da paz e da normalização das relações.