O executivo argentino Pablo Di Si assumiu o comando da operação brasileira da Volkswagen, em outubro do ano passado, com duas missões: conduzir a montadora para fora do crise e devolver à marca parte do terreno perdido. Para isso, ele recebeu sinal verde da matriz, na Alemanha, para investir R$ 7 bilhões em dois anos, recurso que possibilitará o lançamento de 20 modelos até 2020. Em janeiro, a marca cresceu 44% no País, contra 22% do mercado. Durante o lançamento do novo sedã Virtus, em São Paulo, Di Si falou com jornalistas e à DINHEIRO:

Já é possível cravar que a crise não voltará a afetar a indústria automobilística tão cedo?
Com certeza. Já não falamos mais em crise. Os números são muito bons. Só nos primeiros 20 dias de janeiro as vendas cresceram 22% em relação ao mesmo período do ano passado. O modelo novo do Polo, que acabamos de lançar, já está entre os três mais vendidos do País. Com a chegada do Virtus o desempenho vai melhorar ainda mais. Então, aquilo que erramos, vamos corrigir a partir deste ano.

Por que a Volkswagen decidiu ficar fora do segmento que mais cresce, o de SUVs?
Reconheço que foi um erro. Nós lideramos os segmentos que representam 70% do mercado, mas ficamos fora dos 30% que mais cresceram. Em 2012, os SUVs representavam somente 9% do mercado. No ano passado, passaram de 20%.

Além dos SUVs, a empresa pretende estrear em algum outro segmento?
Não posso revelar detalhes, mas posso dizer que estamos em olho em todos. Ainda não estamos em segmentos de entrada como o do Kwid (modelo compacto recém-lançado pela Renault).

E os carros elétricos?
A eletrificação é uma tendência mundial, e a Volkswagen tem meta de ser líder mundial em vendas de veículos elétricos. O Brasil não ficará de fora, mas aqui já temos a força do etanol. Vamos lançar uma versão elétrica e outra híbrida do Golf em 2019 e vamos ver como esse mercado evolui.

Qual é o plano de investimento?
Vamos investir R$ 7 bilhões em dois anos e lançar 20 modelos. Alguns serão produzidos no Brasil, outros serão importados.

Como a Volkswagen compensou a retração das vendas no País?
Basicamente, exportando mais. Somos o maior exportador do setor, e alcançamos 32 países. Estamos crescendo mais porque hoje temos produtos relevantes para exportar, também porque ganhamos maior independência de ações e estratégias com a criação (há dois anos) da região SAM, que além do Brasil engloba outros 28 países da América do Sul e Central.

Antes não havia independência?
Havia menos. Acredito que a principal mudança recente da Volkswagen é a autonomia dada pela matriz às operações regionais. Isso nos dá muita agilidade na tomada de decisões e nos garante uma segurança maior no momento de ajustar a empresa às oscilações do mercado.

Quando a Volkswagen voltará aos patamares pré-crise?
A ociosidade está diminuindo, mas ainda é grande. Gostaria de estar enfrentando dificuldades por conta da alta demanda. Acredito que o crescimento será gradual. Se o mesmo ritmo atual for mantido, talvez tenhamos que retomar contratações a partir de 2020. Se fecharmos os contratos de exportação que esperamos anunciar para os próximos meses, e o mercado brasileiro continuar avançando como está, acho que chegaremos antes ao objetivo.

Há ociosidade em todas as fábricas?
Na fábrica da Anchieta (em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista) há menos. Só que em São José dos Pinhais, no Paraná, o nível de atividade segue baixo, com a produção do Fox e Golf em um só turno e 600 empregados afastados em layoff. Deveremos acelerar isso antes do fim deste ano com a fabricação do SUV compacto T-Cross. O modelo será apresentado em novembro.

Os lançamentos previstos têm alguma relação com os incentivos que serão lançados pelo programa Rota 2030?
Independentemente de programas, sempre buscamos investir em inovação para que ela seja cada vez mais estratégica no desenvolvimento de novos modelos no Brasil e também de projetos globais do grupo Volkswagen.