Secas, incêndios, cheias. Os problemas de escassez de água vão agravar-se à medida que aumentam os fenómenos resultantes das alterações climáticas. O aquecimento global de pelo menos 1,5ºC deve ocorrer nas próximas duas décadas , de acordo com o recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.

Este aumento, como escreve o The Guardian, será acompanhado por grandes mudanças no ciclo da água do planeta, com regiões úmidas a ficarem muito mais úmidas e regiões que já eram áridas vulneráveis a secas maiores. As chuvas torrenciais intensificam-se em cerca de 7% por cada grau centígrado adicional de aquecimento global, concluiu o relatório.

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Ralf Toumi, cientista do Imperial College London, explica: “O princípio de um mundo mais quente é que mais água evaporará, o que agravará as secas, e essa água enriquecida na atmosfera aumentará a quantidade de chuva quando chove.”

“À medida que a atmosfera continua a aquecer por causa do aquecimento global, pode reter e transportar mais umidade – ou seja, em maior escala, prevemos uma aceleração do ciclo hidrológico: evaporação mais intensa nos trópicos e chuvas mais intensas nas latitudes elevadas e algumas regiões equatoriais. Isto levará a fenómenos extremos de chuva mais frequentes em regiões já úmidas e a uma maior incidência e severidade das cheias”, explicou um dos cientistas autores do estudo, Mike Meredith, ao the Guardian.

“Já há evidências claras de que estamos a ver essas mudanças. Em algumas regiões secas, as secas serão piores e mais longas. Os riscos são agravados por consequências indiretas, como maior risco de incêndios florestais, como já estamos a assitir”, explicou.

Os efeitos serão sentidos em todo o mundo, desde os Estados Unidos, onde a seca é um problema crescente no oeste e no sul, até à Índia, onde as monções podem ser mais imprevisíveis. A Europa será especialmente afetada por secas e cheias.

Além disso, como explica ainda Mike Meredith, “os glaciares em todo o mundo recuaram desde a década de 1990. Isto não tem precedentes em pelo menos dois milénios e é um sinal claro dos impactos do aquecimento global. Para muitas comunidades, os glaciares montanhosos são fundamentais, fornecendo uma fonte segura de água doce para beber e regar as culturas. Os glaciares vão recuando e o degelo mais forte inicial causará maior risco de inundações, avalanches e deslizamentos de terra – riscos diretos para quem vive perto.

Com o tempo, a diminuição da disponibilidade de água doce mudará o risco para seca. Existem milhões de pessoas que vivem perto de grandes sistemas glaciares de montanha, como os Himalaias. É uma ameaça extrema para as suas vidas e meios de subsistência”, explicou Mike Meredith.

Estes impactos vão aumentar a pobreza, desestruturar sociedades e transformar a vida numa luta diária para alguns dos mais vulneráveis, antevê Jonathan Farr, analista sénior de políticas para as alyterações climáticas da WaterAid .

Todas as fichas estão agora apostadas na cimeira do clima, a Cop26, em Glasgow, em Novembro. Espera-se que os líderes políticos devam tomar medidas, não apenas sobre as emissões de gases com efeito de estufa, mas também planear os países pobres se adaptem aos impactos da crise climática que já estão a acontecer.