O aquecimento global vai tornar legumes e verduras significativamente mais escassos ao redor do mundo, a menos que se adotem novas práticas de cultivo e variedades resilientes, alertaram pesquisadores em estudo publicado nesta segunda-feira (11).

Até o fim deste século, a combinação de menos água e ar mais quente reduzirão em um terço a média de produção de verduras e legumes, que são cruciais para uma dieta saudável, alertou um estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Um aumento da temperatura de 4 graus Celsius, que os cientistas esperam ocorrer até 2100 se as tendências de aquecimento mantiverem sua trajetória atual, reduzirá em 31,5% a média da produção, destacou a pesquisa.

“Nosso estudo mostra que as mudanças ambientais, como um aumento de temperatura e escassez hídrica, podem representar uma ameaça real à produção agrícola, com possíveis impactos futuros na segurança alimentar e na saúde da população”, destacou a principal autora da pesquisa, Pauline Scheelbeek, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Podem ser particularmente afetados o sul da Europa, grandes partes da África e o sul da Ásia.

As pesquisas se baseiam em uma revisão sistemática de 174 estudos que examinam o impacto das exposições ambientais na produção e no conteúdo nutricional de legumes e verduras desde 1975.

Alguns estudos anteriores indicaram uma possível tendência crescente na produção de cultivos com o aumento das concentrações de CO2, mas a revisão atual revelou que qualquer impulso do tipo seria neutralizado por níveis mais altos de gases de efeito estufa, disponibilidade reduzida de água para irrigação e temperaturas em elevação.

“Pela primeira vez, reunimos todas as evidências disponíveis sobre o impacto das mudanças climáticas na produção e na qualidade dos legumes e verduras”, explicou o pesquisador sênior do estudo, Alan Dangour, também da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

– Uma ‘ação urgente’ é necessária –

“Nossa análise sugere que se adotarmos uma abordagem ‘business as usual’, as mudanças ambientais reduzirão substancialmente a disponibilidade global destes alimentos importantes”, acrescentou.

“É preciso tomar uma ação urgente, inclusive trabalhando para apoiar o setor agrícola para aumentar sua resiliência às mudanças ambientais e esta deve ser uma prioridade para os governos ao redor do mundo”, reforçou.

Um segundo estudo publicado no PNAS revelou que as temperaturas em elevação vão aumentar a volatilidade do milho, o cultivo mais disseminado no planeta.

Os cientistas confirmaram estudos anteriores que demonstraram que o aquecimento global provavelmente afetará o crescimento do milho.

Eles também demonstraram que ondas de calor podem impulsionar a inconsistência e a volatilidade em várias regiões do planeta ano após ano, provocando escalada dos preços e escassez.

“Estudos prévios costumavam se concentrar no clima e nas plantas, mas aqui nós olhamos para o clima, a comida e os mercados internacionais”, disse a principal autora do estudo, Michelle Tigchelaar, pesquisadora de pós-doutorado em ciências atmosféricas da Universidade de Washington.

“Nós descobrirmos que à medida que o planeta esquenta, ele se torna mais propenso em diferentes países a experimentar simultaneamente grandes perdas de cultivos, o que tem grandes implicações nos preços da comida e na segurança alimentar”, acrescentou.

Os países que mais exportam milho no mundo são Estados Unidos, Brasil, Argentina e Ucrânia.

“Com um aquecimento 4 graus mais quente, para o qual o mundo caminha até o final do século se a taxa atual de emissões de gases de efeito estufa se mantiver, há um risco de 86% de que os quatro países exportadores de milho sofram simultaneamente um ano [de colheita] ruim”, destacou o informe.