A infância está desprotegida em todo o mundo diante da “ameaça imediata” que representam para a saúde as mudanças climáticas e a má alimentação, segundo um relatório das Nações Unidas, que será publicado na quarta-feira (19) na revista médica britânica The Lancet.

Avanços realizados nos últimos 20 anos no âmbito da saúde dos mais jovens se encontram “hoje em dia em ponto morto” e, inclusive, “ameaçados”, afirmam os autores do relatório encomendado pela OMS e o Unicef.

O grupo de 40 especialistas independentes em saúde infantil afirmou que nenhum país está protegendo essas gerações dos impactos nocivos das emissões de dióxido de carbono, a destruição da natureza e dos alimentos processados e altamente calóricos.

O aquecimento global, provocado essencialmente por países ricos, “ameaça o futuro de todas as crianças”, ao representar uma nova ameaça para a saúde: de ondas de calor à propagação de doenças tropicais.

O informe também denuncia a publicidade de alimentos gordurosos, doces, do álcool e do tabaco e seu efeito pernicioso no público infantil.

“A mensagem principal é que nenhum país está protegendo a saúde das crianças hoje em dia, nem seu futuro”, segundo Anthony Costello, diretor do Instituto de Saúde Global do University College de Londres.

“Quando analisamos o impacto da contaminação do ar nos pulmões das crianças, nos damos conta de que temos pouco tempo para reparar esta questão”, disse à AFP.

“Temos as soluções, mas nos falta liderança política e a vontade de aplicá-las”, disse.

O informe inclui uma classificação de 180 países em função dos índices de mortalidade infantil, educação e alimentação. Países pobres, como a República Centro-africana e o Chade se situam na lanterna, enquanto Noruega e Holanda lideram a lista.

No entanto, este ranking praticamente se inverte quando se analisa o impacto da contaminação do ar com relação às emissões de dióxido de carbono per capita.

“Os líderes mundiais estão falhando com as crianças e a juventude: não protegem sua saúde, seus direitos, nem seu planeta”, criticou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

– Obesidade, multiplicada por 11 –

Duzentos e cinquenta milhões de crianças menores de cinco anos em países de renda baixa e média correm o risco de sofrer atrasos pela má nutrição e outros impactos da pobreza, segundo os autores do informe.

Ao mesmo tempo, o número de crianças obesas no mundo multiplicou-se por 11 desde 1975 e chegou a 124 milhões.

Em alguns países, crianças veem até 30.000 anúncios pela TV ao ano. E apesar das regulações, um estudo mostrou por exemplo que as crianças na Austrália estão expostas a 51 milhões de anúncios sobre bebidas alcoólicas. “A regulação da indústria fracassou”, segundo Costello.

“E a realidade poderia ser pior: temos novos dados sobre a enorme expansão da publicidade nas redes sociais e os algoritmos destinados aos nossos filhos”.

Os autores pedem aos governos que reduzam radicalmente as emissões de dióxido de carbono, de acordo com os objetivos do Acordo de Paris e endurecer a regulamentação da publicidade.