Com uma onda de quase 200 metros, o tsunami que atingiu um fiorde no Alasca em 2015 foi um dos maiores já documentados. Mas sem ninguém morto, quase passou despercebido.

Foi desencadeado por uma enorme queda de rochas causada pelo derretimento da geleira Tyndall, que, segundo os especialistas, lhes deu a imagem mais clara até agora dos tsunamis gerados por deslizamentos de terra.

Com o aquecimento global fazendo as geleiras encolherem a um ritmo sem precedentes, há um aumento no risco de tsunamis provocados pelo colapso das encostas rochosas, enfraquecidas à medida que o gelo recua, mostrou um estudo da Scientific Reports nesta quinta-feira.

“À medida que as geleiras diminuem no mundo todo, elas estão modificando dramaticamente suas paisagens. No caso de Taan Fjord, o resultado foi um enorme tsunami”, disse Dan Shugar, professor assistente de Geociência da Universidade de Washington Tacoma e coautor do estudo.

“O tsunami foi desencadeado por um enorme deslizamento de terra em outubro de 2015, que ocorreu acima de uma geleira que havia recuado dramaticamente no final do século XX”, disse à AFP.

O tsunami gerou uma onda de 193 metros.

O gelo glacial apoia e reduz os declives íngremes, de modo que, quando o gelo derrete, o leito rochoso subjacente fica exposto e instável, aumentando a probabilidade de quedas de rochas e deslizamentos de terra.

“Precisamos entender melhor o risco representado por esses declives íngremes em um clima em mudança”, disse Shugar.

O estudo fornece uma referência para modelar riscos de deslizamentos e tsunamis, disseram os autores.

“Nossos resultados chamam a atenção para um efeito indireto da mudança climática, que está aumentando a frequência e a magnitude dos perigos naturais perto das montanhas glaciais”.

A maioria das recentes pesquisas de risco sobre tsunamis se concentrou naqueles causados por terremotos, como o ocorrido no Oceano Índico em 2004.

Sabe-se pouco sobre os tsunamis gerados por deslizamentos de terra, que são relativamente raros. O exemplo melhor documentado era de 60 anos atrás.

“Esta é a primeira vez que os cientistas foram capazes de estudar um tsunami do começo ao fim”, disse o coautor Bretwood Higman, diretor executivo da Ground Truth Trekking.

Além de serem raros, esses eventos tendem a ocorrer em locais remotos e perigosos, e os vestígios de evidências geológicas deixados tendem a ser rapidamente cobertos.

Desta vez, os especialistas conseguiram capturar imagens de satélite de alta qualidade e outros dados antes do deslizamento, que mostravam como o solo estava rachando e se deslocando conforme a geleira recuava.

Eles também conseguiram obter uma imagem detalhada do distinto registro sedimentar deixado pelo tsunami, que poderia lançar luz sobre incidentes anteriores e fornecer pistas para prever riscos futuros.

“Conseguimos mapear os depósitos desse evento em grande detalhe, permitindo que nós e outros pesquisadores reconstruíssemos melhor onde – e quando – eventos semelhantes ocorreram em outros lugares, criando assim um quadro mais completo desse risco”, explicou Shugar.

Sinais de que a face da rocha no Fiorde de Taan era instável foram vistos pela primeira vez há quase 20 anos. Declives glaciais desmoronando ativamente ofereciam um alerta potencial sobre onde tais eventos poderiam ocorrer.

“Monitorar o movimento descendente gradual em cadeias de montanhas ao redor do mundo, embora seja um desafio técnico, proporcionaria um passo adiante em nossa capacidade de mitigar o risco”, escreveram.

Além dos tsunamis, especialistas também alertam sobre um crescente risco de marés de tempestade causadas por icebergs que se desprendem de uma geleira.