Sem a mudança climática provocada pelas atividades humanas, as altas temperaturas que atingiram a Europa ocidental no final de julho teriam sido “cerca de 1,5ºC a 3°C mais baixas” – apontam cálculos de um grupo de cientistas publicados nesta sexta-feira (2).

Recordes de temperatura foram quebrados em vários países durante esta breve, mas intensa, onda de calor: 42,6°C em Paris e Lingen, na Alemanha; 41,8°C em Begijnendijk, norte da Bélgica; e 40,4°C no sul da Holanda. Temperaturas sem precedentes também foram alcançadas no Reino Unido, com 38,7°C em Cambridge. A onda de calor subiu até a Escandinávia.

Mas “sem a mudança climática induzida pelo homem, uma onda de calor tão excepcional como esta provocaria temperaturas cerca de 1,5ºC a 3°C mais baixas”, afirmam pesquisadores da rede World Weather Attribution.

Os cientistas tomaram como referência os três dias consecutivos mais quentes durante este episódio.

Para a França, ao combinar diferentes modelos, os cientistas estimam que “a probabilidade de um evento como esse ocorrer foi multiplicada por pelo menos dez”, segundo o relatório.

“Tal evento teria uma probabilidade extremamente baixa de ocorrer” sem a mudança climática na França, diz o estudo.

Em relação à onda de calor que atingiu o Hexágono no final de junho, os cientistas já haviam calculado que foi “pelo menos cinco vezes mais provável” do que se o homem não tivesse alterado o clima.

As ondas de calor não estão isentas de perigo para a saúde humana, lembram os cientistas, com riscos de excesso de mortalidade entre os idosos, mortes por afogamento, mas também mortes de pessoas que praticam uma atividade física em pleno calor.

– Seca e incêndios –

Em agosto de 2003, mais de duas semanas de onda de calor resultaram em um excesso de mortalidade de 15.000 pessoas na França e mais de 70.000 em toda Europa.

O calor evidenciou o mau funcionamento dos serviços de saúde e o isolamento dos idosos, principais vítimas da onda de calor.

Posteriormente, as autoridades elaboraram um plano de “onda de calor” para todos os verões para proteger os idosos, deficientes, sem-teto e crianças muito jovens.

Cidades como Paris também estão agindo, abrindo os parques à noite, ou salas refrigeradas.

O número de mortes causadas pela ondas de calor em junho é esperado para o início de agosto. O balanço da onda de calor do final de julho deve ser tornado público posteriormente.

As duas últimas ondas de calor também atrapalharam o transporte ferroviário na França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Reino Unido, devido a incêndios, ou a danos à infraestrutura pelo calor extremo.

O calor também reforça o problema da seca e o risco de incêndio florestal. Na França, por exemplo, 79 departamentos são afetados por restrições de água.

Espera-se que estas ondas de calor se multipliquem e se intensifiquem sob o efeito do aquecimento global. Nos últimos 2.000 anos, as temperaturas globais nunca subiram tão rapidamente, de acordo com dados divulgados no final de julho em dois estudos separados publicados nas revistas Nature e Nature Geoscience.

Junho de 2019 também foi o mês de junho mais quente já registrado no mundo, particularmente devido à excepcional onda de calor na Europa.

Julho pode ser igual, quebrando o recorde de julho de 2016, de acordo com dados preliminares do Serviço Copernicus de Mudanças Climáticas e da Organização Meteorológica Mundial, com base nos primeiros 29 dias de julho.