O CEO da Apple, Tim Cook, comemorou os resultados financeiros do terceiro trimestre fiscal divulgados no último dia 30. A empresa registrou receita de US$ 59,7 bilhões, crescimento de 11% em comparação ao mesmo período do ano passado. O lucro diluído foi de US$ 2,58 por ação, que corresponde a um aumento de 18%. As vendas internacionais representaram 60% do faturamento. O valor de mercado (na quarta-feira, 5) é de US$ 1,9 trilhão. Entre as três líderes em venda de smartphones no mundo, apenas a gigante americana registrou números superiores de abril a junho deste ano em relação aos mesmos três meses de 2019. Cenário mais que positivo, em um momento difícil de pandemia. “Em épocas de incerteza, esse desempenho é uma comprovação do importante papel que os nossos produtos representam na vida dos clientes e da inovação contínua da Apple”, afirmou Cook. Apesar da tranquilidade demonstrada publicamente, há um “bichinho” dentro dessa maçã que tem preocupado o executivo. Com algumas fábricas de componentes espalhadas pelo mundo fechadas ou com paralisação parcial em algum momento da quarentena, já começam a faltar peças de reposição e produtos da Apple no mercado.

A companhia, inclusive, anunciou que vai atrasar em algumas semanas seu principal evento do ano, o lançamento da linha de iPhone 12, inicialmente marcado para setembro. “O show deve sofrer consequências”, afirmou Vivaldo José Breternitz, professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. O show a que se refere o especialista tem amplos contornos. Primeiramente, o espetáculo da apresentação do produto é um atrativo à parte. Como consequência, os fãs da marca fazem enormes filas na porta da loja da Apple em Nova York e em outras cidades do mundo à espera da abertura para garantir as primeiras unidades do aparelho. Uma exposição midiática que garante publicidade espontânea à marca. O que gera fortalecimento da empresa e, consequentemente, resultados comerciais. Tudo faz parte do show.

ÁSIA O desabastecimento de suprimentos para reposição em assistências técnicas e para montagem dos dispositivos atingiu o principal mercado da empresa, os Estados Unidos, no início do ano, quando a pandemia estava mais presente na Ásia. Agora, é notório em outras regiões e já chegou ao Brasil. A principal fornecedora é a taiwanesa Foxconn, que possui uma fábrica gigante na China, que ficou fechada por quase um mês, entre janeiro e fevereiro. Outras grandes parceiras da Apple estão na Índia, como a Wistron, que passou três semanas sem produzir nos meses de março e abril.

No Brasil, há relatos de falta de peças e de equipamentos nas assistências e revendedoras autorizadas. Em uma delas, de Campinas (SP), o cliente levou o aparelho Apple TV 3 para conserto. Fora de linha e sem componentes, a solução foi pagar a diferença de R$ 790 para um aparelho da geração 4. O prazo dado para a entrega foi o trivial, de sete dias. Quase dois meses depois do pedido, o produto ainda não chegou. Pior: acionado, o SAC da Apple nos Estados Unidos informou que não há data para entrega. Telas, placas, baterias e outros componentes de celulares, iPad e MacBook também estão em falta ou com baixos estoques.

Conforme as produções vão sendo normalizadas, os mercados primários serão prioritariamente reabastecidos, como Estados Unidos e Europa. O Brasil está no fim da fila. Além da importância nas contas da companhia, a distância e o tempo de entrega também influenciam para isso. “O lead time da China para o Japão é de dois dias. Para os Estados Unidos é de dez dias. Para o Brasil pode variar de 90 a 120 dias”, afirmou Ricardo Fiorante, diretor comercial e de marketing da FX Retail Analytics, com experiência no ecossistema. Procurada, a Apple do Brasil afirmou que não comenta o assunto. Uma falta de transparência que também afeta seus consumidores, que são avisados dos problemas informalmente por atendentes da assistência técnica.

AMEAÇA O bichinho do desabastecimento que poderia apodrecer o bom momento vivenciado pela Apple parece não ter forças. Há marcas que são resilientes. Outras, não. A estratégia de lançar no mercado um celular mais barato – o iPhone SE, que une o design na versão 8 com o hardware do 11 – surtiu efeito positivo. Segundo dados da consultoria International Data Corporation (IDC), as vendas de smartphones da maçã subiram 11,24% no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Já a líder do mercado mundial Huawei apresentou queda de 4,94% e a segunda colocada, Samsung, despencou 28,87%. O market share global da gigante americana em smartphones passou de 10,2% no segundo trimestre de 2019 para 13,5% em igual período deste ano.

No Brasil, a Apple cresceu. De acordo com dados da StatCounter, que mensura os acessos à internet dos dispositivos, a empresa de Tim Cook teve elevação de 12,38% em janeiro para 14,68% agora. Enquanto as concorrentes que lideram o mercado caíram. A Samsung tinha 45,62% e registrou 44,35%. E a Motorola desceu de 23,33% para 21,67%. Os números do próximo trimestre mostrarão se o tal bichinho do desabastecimento de suprimentos destruiu parte da maçã ou se Tim Cook tirou um inseticida da cartola para anular os danos ao seu fruto trilionário. Por ora a resposta é que Cook tem vencido.