A decisão do Federal Reserve de, extemporaneamente, reduzir o juro nos Estados Unidos em 0,5 ponto porcentual manteve os juros locais em trajetória firme de queda à tarde, após terem subido na manhã desta terça-feira, 3. As taxas curtas e intermediárias caíram mais do que as longas, com a curva perdendo inclinação, em função da disparada das apostas de corte da Selic pelo Banco Central a partir deste mês, em alinhamento ao que outros vêm fazendo em resposta ao avanço do coronavírus.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 3,85% (regular) e 3,875% (estendida), de 3,964% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 recuou de 4,36% para 4,25% (regular) e 4,30% (estendida). O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 6,380% (regular) e 6,43 (estendida), de 6,411%.

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Os mercados ontem já precificavam um corte de 0,5 ponto nos fed funds, mas na reunião de política monetária regular do dia 18 de março e não de maneira tão imediata. Após um efeito inicialmente positivo nos ativos no começo da tarde, a medida depois acabou trazendo nervosismo aos ativos, ao indicar que o risco para a economia americana pode ser maior do que se imaginava. Além disso, o Fed sinalizou que não pretende utilizar de outras ferramentas que não os juros. As bolsas ampliaram perdas e o rendimento da T-Note de 10 anos caiu abaixo de 1% pela primeira vez.

Aqui, as taxas se firmaram em queda, mas, até então, estavam em alta, refletindo declarações do diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, ontem, lidas pelo mercado como sinal de que a autoridade monetária não vê desconforto no ambiente econômico em função do coronavírus. Em aula magna na FEA-USP, ele deixou claro logo no início da apresentação que não falaria sobre política monetária ou coronavírus. “Essas coisas terão desaparecido daqui a alguns trimestres”, disse.

Após a medida atípica do Fed, porém, cresceu a pressão no mercado por novas quedas da Selic, já que outros BCs vêm atuando neste sentido – o da Austrália reduziu a taxa para 0,5%, piso histórico, e o da Malásia cortou o juro em 0,25 ponto porcentual, a 2,50%.

A probabilidade de redução de 0,25 ponto no Copom de março saltou de 40% para 76% na precificação da curva entre ontem e hoje, segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. Para a reunião seguinte, de maio, o mercado embute 34% de chance de um corte desta magnitude e a projeção no fim do ano na curva é de Selic em 4%.

Depois do Fed, várias casas também alteraram sua perspectiva para a política monetária. O mercado passou a enxergar como mais provável um corte de 0,25 ponto em março, de acordo com a maiorias das estimativas do levantamento relâmpago do Projeções Broadcast. E ainda há casas que preveem corte mais robusto, de 0,50 ponto – mesma magnitude do corte do Fed.

“Em função do Fed, parece razoável que o plano de voo do Copom possa mudar”, afirmou o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena. “O ambiente global claramente está se deteriorando. É bem pouco provável que não corte”, acrescentou.

Contato: denise.abarca@estadao.com