Robert Shiller: “O mercado é como um sujeito com obesidade mórbida: os riscos aumentam, mas há obesos que vivem até os cem anos” (Crédito:AP Photo/Jessica Hill)

Ninguém celebrou, por razões óbvias. No dia 19 de outubro completaram-se três décadas da chamada “segunda-feira negra” de 1987, quando o Índice Dow Jones caiu 22,6%. Faz tempo. Porém, para o economista americano Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia, parece que foi ontem. Ele vê vários paralelos entre o cenário de há 30 anos e o atual. Na época, como agora, o mercado acionário tinha subido 81% entre 1982 e 1986. Subiu mais 44% entre janeiro e agosto de 1987. Então, nas primeiras semanas de outubro, James Baker, secretário do Tesouro (o equivalente a Ministro da Fazenda) resolveu dizer que as ações estavam caras. Foi um sinal para os investidores refazerem as contas e passarem a vender. O resto é história: o que começou como um movimento de ajuste transformou-se em crise.
Para Shiller, a situação atual é parecida. As ações americanas estão em seus máximos históricos (observe o gráfico), graças aos juros muito baixos e à abundância de dinheiro. O mesmo ocorre por aqui: o Índice Bovespa vem rondando 77 mil pontos desde o segundo trimestre, sem sinais de queda, apesar de eventuais notícias ruins em Brasília. Shiller está cético, mas não pessimista. Ele diz não esperar uma crise comparável com a de 1929. “O mercado é como um sujeito com obesidade mórbida: os riscos aumentam, mas há obesos que vivem até os cem anos”, diz ele ao The New York Times. Mesmo assim, ele não descarta uma correção, parecida com a de 1987. E há um número crescente de analistas, nos Estados Unidos e em outros países, que acha isso sensato.

Quebra do Lehman Brothers, em 2008: hoje, os bancos estão saudáveis, mas suas ações estão caras demais (Crédito:AP Photo/Sang Tan)

O principal risco, avalia o estrategista americano William Koldus, são os papéis de bancos. Após a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em 2008, as instituições financeiras tornaram-se muito dependentes dos juros baixos, próximos a zero, que estão valendo desde então. Uma alta dos juros pode reduzir os ganhos dos bancos, forçando vendas de ações. “Os bancos estão sólidos, mas suas ações estão caras”, diz Koldus. Como o investidor brasileiro pode ganhar com essa percepção? Em primeiro lugar, quem quiser apostar na baixa terá de se conformar em ficar sozinho.

Marcelo López: “As ações vão cair quando os investidores começarem a resgatar o dinheiro dos ETFs”

Há uma multidão de investidores colocando, sistematicamente, mais dinheiro nas ações americanas por meio dos fundos com cotas negociados em bolsa, chamados Exchange Traded Funds (ETF). “Esses fundos vêm recebendo, em média, US$ 4 bilhões em dinheiro novo por dia, o que pressiona as ações para cima automaticamente”, diz o gestor de recursos Marcelo López, sócio da empresa independente L2 Capital Partners. “Porém, no momento em que esse dinheiro começar a sair, as cotações serão automaticamente pressionadas para baixo.”

Para ganhar com isso há várias estratégias possíveis, mas duas delas são mais simples. A primeira é apostar na baixa das ações por meio da compra de opções de venda, conhecidas como puts. Esses derivativos dão ao investidor o direito de vender uma ação a um determinado preço. Uma ação da Apple a US$ 160 , por exemplo. Na quinta-feira 26, esses papéis fecharam a US$ 157. Se caírem para US$ 140, o investidor pode comprar e revender a US$ 160. O lucro seria de US$ 20, descontando-se o preço para comprar a opção. Se as ações subirem, porém, o investidor perde o que aplicou na opção. Para fazer isso, é preciso ter dinheiro no exterior e servir-se de uma corretora que atua no mercado americano.

Uma alternativa mais simples, para quem não quer operar no mercado internacional, é apostar nos ativos que tradicionalmente sobem de preço em momentos de crise. O mais comum é o ouro, negociado na B3. É um mercado volátil, pouco líquido e mais adequado para profissionais. No entanto, uma queda das ações nos Estados Unidos pode provocar uma migração de recursos para o ouro, o que fará as cotações subirem em sintonia por aqui. E aí, é só esperar a chuva, com a consciência que ela pode demorar muito para chegar.