Em 2006, o carioca Danilo Carvalho, encerrou uma carreira de executivo no Banco do Brasil, onde ingressara três décadas antes, ainda menor de idade, como um simples contínuo. No entanto, aos 47 anos de idade, com formação em administração de empresas, ele sabia que era muito cedo para pendurar as chuteiras. Decidiu continuar a trabalhar, dessa vez como dono de sua própria empresa.

Nas discussões com um amigo de longa data, também oriundo do setor financeiro, o engenheiro paulista Rubens Nazar, 50 anos de idade, que trabalhou no falecido Bamerindus, Carvalho não teve maiores dificuldades para identificar o negócio a ser montado, utilizando sua experiência no BB. Nascia ali, a Comercial Eletrônica Fácil, mais conhecida no mercado pela sigla Comef. Doze anos depois, a empresa, baseada em Brasília, opera uma das maiores redes de correspondentes bancários do País, com 500 funcionários, faturamento anual de R$ 30 milhões e 1.500 pontos de atendimento, entre próprios e terceirizados, como restaurantes, pequenas lojas de varejo, padarias, entre outros. ”Nesses pontos, são os proprietários e seus empregados que executam os serviços oferecidos pela Comef”, afirma Nazar.

O banco âncora da Comef é o BB, que garante suas atividades, que vão do pagamento de contas e tributos como o IPVA, saques e depósitos, recebimento de aposentadorias e até recarga de celulares.

Para montar a empresa valeu a experiência de Carvalho, que acompanhou de perto a formatação do Banco Popular, criado pelo BB, no começo dos anos 2000 e que tinha como alvo principal microempresários e a população de baixa renda, principalmente os chamados desbancarizados, que não possuíam nenhum vínculo com instituições bancárias.

Trata-se de um mercado e tanto, estimado pelo instituto Data Popular em nada menos de 55 milhões de pessoas, o equivalente a 39,5% da população acima de 18 anos. “O público que utiliza o correspondente bancário é bem diversificado, formado por autônomos, gente que trabalha na informalidade a pessoas de baixa renda e de idade mais avançada, que não se sentem confortáveis ou se intimidam ao frequentar as agências bancárias tradicionais”, afirma Carvalho.

Outro trunfo em favor do sistema de correspondentes bancários tem sido oferecido pelos próprios bancos comerciais, que vêm reduzindo suas redes de agências, em sua cruzada pela diminuição dos custos operacionais. Segundo o Banco Central, nos últimos dois anos o número de agências caiu de 23.400 para 21.750, uma variação negativa de 7,5%. Destacam-se nesse processo o Bradesco e o BB, com quedas de 11,4% e 12,2%, respectivamente

Ao contrário do Banco Popular, descontinuado em 2008 pelo BB, após um prejuízo de R$ 144 milhões, a Comef continuou crescendo, por dois fatores principais. O primeiro é sua estrutura física enxuta. O segundo, lembra Carvalho, foi o investimento em tecnologia de ponta. “Constatamos que sem tecnologia não iríamos para a frente”, diz ele, que contratou um time de cientistas e doutores para desenvolver soluções baseadas em Inteligência Artificial.

Com o tempo e animados com os resultados obtidos internamente, Carvalho e seu sócio Nazar resolveram oferecer os serviços da área de tecnologia da Comef no mercado. Para isso, o núcleo tecnológico, que conta com 15 especialistas, foi promovido a uma empresa independente, a Orbistec, apresentada ao mercado na última edição do CIAB Febraban, o maior congresso de Tecnologia da Informação para o setor financeiro da América Latina, realizada no fim da primeira quinzena de junho, em São Paulo.

Com escritórios em São Paulo, Ribeirão Preto, Recife e Fortaleza, Carvalho vai abrir um novo endereço em Curitiba para atender as necessidades de desenvolvimento da Orbistec na região Sul. De acordo com ele, o novo braço de negócios não se limitará ao setor financeiro e será oferecido às empresas de varejo, da indústria e escritórios de advocacia. “A Orbistec é uma consultoria que utiliza a Inteligência Artificial para descobrir e apontar o que nem sempre está claro para os gestores, trazendo mais previsibilidade aos negócios e aprimorando o atendimento aos clientes”, afirma. “Fomos procurados até por uma usina de cana de açúcar no CIAB”.