Owens Illinois tem quase 60% do mercado de embalagem de vidro no Brasil. Mas a multinacional americana quer mais. Disposta a pôr fim à importação do produto, a líder mundial vai investir R$ 1 bilhão no País para expandir a produção. Serão duas novas fábricas que, com o uso de uma nova tecnologia chamada Magma (Modular Advanced Glass Manufactoring Asset), irão elevar em até 20% – ou em 650 milhões de unidades por ano – a capacidade da indústria nacional. “Esse sistema vai mudar a forma como o vidro é produzido”, afirmou à DINHEIRO Hugo Ladeira, presidente da Owens Illinois para a América Latina. “Faço uma analogia que é como se saíssemos do carro com motor a combustão para o elétrico”, disse o executivo da companhia, que possui quatro sites convencionais no Brasil: um em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outros dois em Pernambuco.

Ladeira lembra que a indústria do vidro é praticamente a mesma há mais de um século e Magma vai trazer um grau de flexibilidade que o vidro hoje não tem. “Vai permitir, por exemplo, a troca de cor ou da forma utilizada na produção da embalagem”, disse. A tecnologia oferece eficiência energética elevada ao injetar no forno mais oxigênio, de maior poder calorífico. Assim, viabiliza a operação de linhas de produção menores, com um quarto de uma fábrica convencional, além de processo praticamente 100% digital.

O investimento no Brasil faz parte de um pacote global de US$ 680 milhões da Owens Illinois (O-I), com desembolsos entre 2022 e 2024. O País concentrará 26% – ou US$ 180 milhões – do valor total do aporte com a implementação de três linhas de produção, uma delas no eixo Rio-São Paulo e duas na região Sul. As negociações com municípios para a instalação dos sites estão em andamento. As obras devem ter início até dezembro e as operações, no terceiro trimestre de 2023, com a geração de 500 empregos. Segundo Ladeira, será o primeiro movimento da indústria nacional em dez anos para a construção de uma fábrica do zero. “Tivemos apenas algumas iniciativas de ampliação no período.”

A expansão da produção visa atender o crescimento da demanda durante a pandemia, principalmente no consumo de vinhos, cervejas premium e alimentos, que utilizam garrafas de vidro. O custo elevado do frete e a escassez de oferta, inclusive no mercado internacional, têm dificultado o acesso a essas embalagens. Atualmente, até 15% da demanda brasileira por garrafas é suprida por importações de países como a Argentina. “Acreditamos que com essa expansão iremos zerar a necessidade de importação.”

A empresa possui duas unidades-piloto do Magma em atividade – na matriz nos Estados Unidos e na Alemanha – e pretende implementar 11 linhas pelo mundo, concentradas nas Américas. Além do Brasil, serão construídas fábricas no Peru, no Canadá e nos Estados Unidos.

O déficit no fornecimento de embalagens de vidros, especificamente garrafas, trouxe um desafio muito grande à empresa diante de todo o cenário vivido no Brasil, com o custo alto da energia e a incerteza em relação à política econômica. Bruno Jucá, diretor de finanças da Owens para a América Latina, disse que foi uma dificuldade justificar o investimento no Brasil. “Hoje, para ser viável uma fábrica de vidro, é necessário fazer numa escala muito grande para que seja competitiva”, afirmou. “Quando se fala de custo, o vidro perdeu muito espaço para lata de alumínio e para o plástico, que têm aplicações muito mais simples.” A nova tecnologia, segundo ele, coloca a indústria de embalagens de vidro num grau de flexibilidade mais elevado.

LOGÍSTICA A possibilidade de instalação de fornos menores por todas as regiões do Brasil vai baratear o frete, um dos principais gargalos do setor. “Acreditamos que a nova tecnologia vai gerar um valor muito grande à cadeia”, disse Jucá. O frete hoje pode representar até 50% – ou mais dependendo da localidade – do custo final do cliente, que agora “vai poder ter plantas perto dele e reduzir drasticamente esse custo.”

A expectativa da Owens Illinois é que o movimento ascendente no Brasil se mantenha. O País está entre os quatro principais mercados da empresa no mundo. A relevância, de acordo com o presidente Hugo Ladeira, é grande não só pelo tamanho da operação, mas pela presença de clientes globais, como Ambev, Coca-Cola, Diageo, Heineken e Nestlé. “As operações no Brasil da Heineken e do Nescafé, que usam embalagens de vidro, são as maiores do mundo.” Com as novas linhas de produção totalmente vendidas, a expectativa é otimista.