Aposentar-se nos Estados Unidos tem sido um grande negócio, sobretudo se o aposentado ocupou recentemente o posto de presidente em uma grande companhia americana. Tome como exemplo o caso de Ronald W. Allen, ex-CEO da Delta Airlines. Ao anunciar sua saída em 1997, Allen se transformou em consultor da empresa. Ganha anualmente por este serviço cerca de US$ 500 mil, pouco menos que o salário do atual presidente da companhia, Leo Mullin. Detalhe: Allen trabalha cinco dias por mês, participando apenas das principais reuniões da companhia. Seu pacote de aposentadoria ainda inclui uma pensão anual de US$ 765 mil e outros US$ 4,6 milhões em benefícios (carros, clubes, moradia, gastos com o escritório de consultoria, etc.). Enfim, os executivos estão valendo mais fora do que dentro da empresa.

Allen é apenas um dos participantes de uma lista de notáveis executivos de luxo. Inclua-se nesse rol Gerald Levin (ex-Aol Time Warner), Roger Enrico (ex-Pepsi), Jacques Nasser (ex-Ford), Louis Gerstner (ex-IBM) e Terrence Murray (ex-FleetBoston Financial). Nenhum deles ganha menos de US$ 1,5 milhão ao ano, incluindo a remuneração como consultor e demais benefícios. A consultoria americana Executive Compensation Advisory Service revela: entre 1996 e 2001, 30% das 100 maiores companhias locais pagaram em média US$ 500 mil ao ano em salário para que seus ex-chefes se transformassem em conselheiros ? fora as demais regalias. Entre 1991 e 1995, apenas 10% chegavam a este patamar.

Os contratos de consultoria pós-gestão têm a função de assegurar uma transição mais suave no comando da empresa. Esta é a teoria. Na prática, os luxuosos ?mimos? servem mesmo para garantir que o aposentado ? conhecedor de todos os segredos e estratégias da companhia ? não fique livre no mercado, pronto para ser fisgado pela concorrência. Ou seja, paga-se muito bem para que o profissional nem se atreva a vestir a camisa de nenhuma outra empresa. ?A prática é válida. O problema são os excessos cometidos por algumas empresas americanas. Tudo lá é cinematográfico?, avalia Hélio Castro, sócio da Horton International do Brasil, empresa especializada no recrutamento de altos executivos. ? Só que nos últimos tempos, a sociedade americana vem cobrando a conta deste tipo de exagero.?