Descolado do tom positivo das bolsas americanas, o Ibovespa operou no vermelho ao longo da tarde e encerrou o pregão desta quinta-feira em queda, mas ainda acima dos 105 mil pontos. Segundo operadores, após uma sequência de seis pregões de alta, em que subiu mais de 5% e chegou a se aproximar do recorde histórico de pontuação, era natural que houvesse um movimento de pausa na trajetória ascendente para ajustes técnicos e realização de lucros.

Pela manhã, em meio ao otimismo em torno do acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), o Ibovespa acompanhou o ritmo das bolsas americanas e chegou a se aproximar os 106 mil pontos. A maré virou no fim da primeira etapa de negócios, com investidores aproveitando desaceleração do ritmo de alta dos índices em Wall Street para disparar ordens de vendas e embolsar ganhos recentes.

Com máxima aos 105.891,19 pontos e mínima aos 104.826,61 pontos, o Ibovespa encerrou o dia aos 105.015,77 pontos, em queda de 0,39%. O volume negociado foi de R$ 15,25 bilhões. Apesar do tropeço, o índice acumula valorização de 1,14% nesta semana.

A analista da Toro Investimentos Stefany Oliveira observa que não houve fatos específicos que pudessem explicar a perda de força do Ibovespa. “A retomada do índice nos últimos dias foi muito forte e esse movimento comprador continuou pela manhã. Era normal que houvesse uma parada para correção e realização de lucros”, afirma.

Os papéis da Petrobras e dos bancos, que sustentaram a onda recente de valorização do índice, perderam força e fecharam em terreno negativo. A ação PN da Petrobras caiu 0,97%, e a ON, 0,96%. No setor financeiro, Bradesco PN perdeu 1,69% e Itaú PN, 0,60%.

Entre os índices setoriais da B3, apenas o Índice Imobiliário (Imob) fechou no azul (0,45%). Já as maiores perdas ficaram com o Índice de Materiais Básicos (0,33%) e o Índice Industrial (0,19%). As varejistas, que vinham ganhando terreno, tiveram desempenho díspar. A ação ON da B2W caiu mais de 2%, liderando as perdas dentro do Ibovespa, ao passo que o papel ON da Magazine Luiza subiu mais de 1%.

Segundo operadores, as rusgas entre o presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL, não chegaram a influenciar os negócios, já que não parecem, por ora, ameaçar a agenda de reformas no Congresso. A aprovação do projeto de lei da divisão dos recursos da cessão onerosa pôs fim aos temores de atraso na votação do segundo turno da reforma da Previdência no Senado, que deve ser na terça-feira da próxima semana, dia 22.

Para Stefany, da Toro, a aprovação da mudança no sistema de aposentadorias e a continuidade da agenda de reformas, como a tributária e a administrativa, já estão refletidos nos preços das ações. O Ibovespa, ressalta a analista, já está próximo ao seu pico histórico e uma nova rodada de valorização do índice depende agora de uma nova safra de notícias positivas no front doméstico. “O desempenho da economia brasileira neste ano não foi como o esperado. E a reforma da Previdência já está bem precificada. Não dá para ver de onde viria um fluxo comprador mais forte para bolsa”, diz a analista da Toro, ressaltando que, lá fora, ainda há dúvidas sobre a continuidade da trégua na guerra comercial sino-americana.