A tensão continuava a aumentar nesta terça-feira (25) com o anúncio de Teerã de que abandonará outros compromissos do acordo nuclear de 2015, em um contexto de confronto com os Estados Unidos.

No mês passado, o Irã havia informado que deixaria de obedecer aos limites impostos pelo acordo concluído em 2015 em Viena. O pacto trata de suas reservas de água pesada e urânio enriquecido.

Nesta terça-feira, Teerã foi mais longe, informando que, a partir de 7 de julho, reduzirá consideravelmente os compromissos contraídos no âmbito do acordo, segundo o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional (CSSN), almirante Ali Shamjani.

Hoje, o presidente americano, Donald Trump, classificou de “ignorante e ofensiva” a resposta do Irã à sua oferta de diálogo, feita após Washington anunciar uma nova bateria de sanções econômicas.

“O comunicado ignorante e ofensivo do Irã divulgado hoje mostra que eles não entendem a realidade”, tuitou o presidente, um dia depois de impor sanções ao líder supremo da República Islâmica e aos principais comandantes militares, prometendo incluir o ministro das Relações Exteriores em sua lista negra.

Trump também advertiu o Irã de que um ataque aos interesses americanos provocará uma resposta “esmagadora”.

Mais cedo, o Irã acusou o governo americano de fechar de forma “permanente” a via diplomática e de “mentir” sobre sua intenção de negociar.

Na segunda-feira, Trump anunciou sanções contra o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e o chefe da diplomacia, Mohamad Javad Zarif. Face da política iraniana de distensão com o Ocidente, Zarif é considerado um moderado e odiado pelos ultraconservadores iranianos.

“Ao mesmo tempo em que pedem negociações, eles tentam punir o ministro das Relações Exteriores. É evidente que mentem”, declarou o presidente iraniano, Hassan Rohani.

– “Problemas mentais” –

“Sanções, para quê?”, questionou Rohani. “Para congelar os ativos do guia? Mas nossos dirigentes não são como os dos outros países que têm bilhões em suas contas no exterior para que vocês possam impor sanções”, completou.

“Esta Casa Branca sofre de problemas mentais. Não sabe o que fazer”, completou o presidente iraniano.

Irã e Estados Unidos romperam as relações diplomáticas em 1980, depois da Revolução Islâmica e da tomada de reféns na embaixada americana em Teerã. Uma aproximação aconteceu durante o governo de Barack Obama, com a conclusão do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano.

Com o acordo, Teerã se comprometeu a não produzir armamento atômico e a limitar drasticamente seu programa nuclear, em troca da suspensão de parte das sanções internacionais.

Após sua chegada ao poder, Trump decidiu retirar Washington de forma unilateral do acordo e a restabelecer as sanções econômicas.

Apesar das medidas punitivas, o conselheiro de Segurança Nacional americano, John Bolton, afirmou durante uma visita a Israel, outro país inimigo do Irã, que a porta segue aberta para “verdadeiras negociações” com Teerã. Ao mesmo tempo, criticou o que chamou de “silêncio ensurdecedor” dos iranianos ante a proposta de diálogo.

Nos últimos meses, a tensão aumentou entre os dois países, especialmente após a destruição, em 20 de junho, de um drone americano com um míssil iraniano.

Nesta terça-feira, a Rússia, aliada do Irã, apoiou a versão iraniana do incidente.

O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, afirmou que o drone americano estava no espaço aéreo iraniano, e não no espaço aéreo internacional, como indica Washington.

“Tenho informações do Ministério russo da Defesa de que o drone estava no espaço aéreo iraniano”, declarou. “Não vimos provas do contrário”, completou.

Diante do temor de um confronto entre os países, o Conselho de Segurança da ONU pediu “diálogo”. França, Alemanha e Grã-Bretanha, países signatários do acordo nuclear com o Irã, defenderam a busca por alternativas para reduzir a tensão. A China fez um apelo por “sangue frio”.

Em um movimento mais incisivo, porém, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, declarou hoje que o Irã cometerá “um grave erro”, se violar o acordo de 2015.

“As diplomacias francesa, alemã e britânica estão totalmente mobilizadas para fazer o Irã entender que não é de seu interesse”, disse Le Drian à Assembleia Nacional, pedindo “ações conjuntas para evitar uma escalada” no Golfo.

Na quarta-feira (26), o Conselho de Segurança deve se reunir para examinar a aplicação do acordo nuclear iraniano. As divergências devem aumentar, pois o Irã anunciou que suas reservas de urânio enriquecido devem superar, a partir de quinta, o limite previsto no pacto.

Até o momento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou que o Irã vem respeitando os compromissos assumidos em 2015.