Em dia de alívio relativo pela leitura um pouco abaixo do esperado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) em abril, o Ibovespa conseguiu interromper a sequência de sete perdas, a mais longa desde maio de 2016, e fechou o dia em alta de 1,05%, a 109.349,37 pontos, entre mínima de 108.214,13, da abertura, e máxima de 110.107,48 pontos, com giro a R$ 30,9 bilhões.

O dia também foi de moderada recuperação na maioria dos mercados acionários da Europa e dos Estados Unidos, enquanto, no Brasil, o dólar se acomodou a R$ 4,96 no fechamento, após ter encerrado a terça-feira a R$ 4,99 e chegado na máxima desta quarta-feira a R$ 5,0402.

+ Com apoio de Vale, Ibovespa interrompe série de baixas

Após perdas bem distribuídas no dia anterior nas ações e segmentos de maior peso no índice, a recuperação também se mostrava bem disseminada nesta quarta-feira, com o setor de mineração (Vale ON +5,35%) e siderurgia (Gerdau PN +6,01%, CSN ON +4,58%) à frente.

Na ponta do Ibovespa, destaque para Gerdau PN, além de WEG (+5,50%) e Vale. No lado oposto, Hapvida (-5,84%), Azul (-3,19%), Positivo (-2,63%) e Méliuz (-2,58%). Ao fim, os bancos (Itaú PN -0,81%, Unit do Santander -0,40%) e Petrobras (ON +0,30%, PN estável) perderam força e encerraram sem sinal único.

“Por mais que o IPCA-15 tenha vindo um pouco abaixo do que projetava o mercado, é um patamar ainda extremamente alto, maior desde 1995 para o mês de abril, como o próprio IBGE ressalta. A pressão é grande sobre o BC para que não interrompa, não deixe a porta fechada no ciclo monetário, na semana que vem. Seria algo que o mercado penalizaria, em termos de câmbio e de curva de juros. Com o Focus de ontem e o IPCA-15 de hoje, a porta deve continuar aberta para eventual alta derradeira em junho ou mesmo além, dependendo do contexto interno e externo”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

“Se fizermos balanço dos últimos 45 dias, desde a última reunião do Copom, há fatores do Brasil e de fora que reforçam a necessidade de ir um pouco além, e o IPCA-15 vai nesse sentido, com difusão bem elevada, maior ainda do que em março, com muitos itens subindo ao mesmo tempo. A inércia é forte aqui no Brasil, e há muita pressão de fora”, acrescenta o estrategista.

“Esta foi a primeira vez em alguns meses que um número de inflação vem abaixo das expectativas. E, no IPCA fechado de abril, começará um alívio significativo com a bandeira verde e com altas menores nos preços de combustíveis. Ainda que os choques mais severos de preços de energia e alimentação tenham ficado para trás, o cenário para a inflação não está melhorando consistentemente”, aponta em nota a Terra Investimentos.

“O IPCA-15 de abril subiu 1,73% no mês, um pouco abaixo das projeções de mercado, alcançando 12,03% em 12 meses e muito provavelmente marcando o pico da inflação no Brasil após o choque de oferta vindo do conflito no Leste Europeu”, avalia Igor Barenboim, sócio e economista-chefe da Reach Capital. “O próximo número de inflação já deve levar em conta a deflação dos preços de energia, reduzidos pelo retorno à bandeira verde por conta da normalização do regime de chuvas”, acrescenta o economista, destacando um aspecto que considerou favorável na leitura do IPCA-15 em abril: “inflação de serviços mais baixa, principalmente por conta de alimentação fora de casa e empregados domésticos”.

“Essa desaceleração de serviços contribui para aumentar o conforto do BC para fazer o último movimento do ciclo em maio”, diz Barenboim, embora reconheça fatores de incerteza que dificultam ao BC o compromisso com determinado caminho para os juros, entre os quais o prosseguimento do conflito na Ucrânia, os lockdowns na China e o ajuste em curso nas políticas monetárias das principais economias.

No noticiário do exterior, a Guide Investimentos destaca, em nota, discurso do presidente da China, Xi Jinping, no qual reiterou intenção de aumentar gastos em infraestrutura, e os “sinais de que as autoridades chinesas estão conseguindo controlar os surtos de coronavírus em Xangai e Pequim”.