Em meio às investigações de corrupção em curso no País, desencadeadas com a Operação Lava Jato – que colocou no olho do furacão grandes grupos brasileiros -, gestoras de investimentos nacionais e estrangeiras estão mais cautelosas para fechar negócios. Mesmo com ativos mais baratos, até investidores mais dispostos a riscos estão recorrendo a salvaguardas jurídicas antes de fechar uma transação.

À frente do JB Investimentos, José Luiz Osorio, redobrou a preocupação na hora de avaliar um negócio. “Já tínhamos como critério não investir em empresas de capital misto (com participação de estatal), por exemplo”, diz. Segundo ele, há muitas empresas estatais com bons ativos sob gestão, mas ações de companhias com boas práticas de governança corporativa oferecem menor risco aos investidores.

Ex-executivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o sócio-gestor da Jardim Botânico Investimentos tem R$ 300 milhões sob gestão. Osorio também foge de empresas que são minimamente reguladas pelo governo, mesmo correndo o risco de sobrar poucas opções no cardápio para investir. “Nunca fizemos investimentos, por exemplo, em empresas do Grupo X, de Eike Batista.”

O cenário atual, com novas delações, mais do que reforça a cautela das gestoras, diz Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, que tem R$ 500 milhões sob gestão e também é atuante em conselhos de empresas nas quais costuma investir. “Ter conselheiros independentes é um bom sinalizador para o mercado”, diz Rudge.

‘Efeito Lava Jato’

Com a deflagração da Lava Jato, muitas empresas que foram alvo da operação tiveram de colocar boa parte de seus negócios à venda para ganhar maior liquidez. Mesmo diante de um leque maior de ativos de empresas investigadas à disposição e da crise econômica, que deixaram as empresas mais baratas, muitos gestores só estão fechando negócios com respaldo jurídico. Foi o caso da canadense Brookfield, que condicionou a compra de 70% da Odebrecht Ambiental ao acordo de leniência da companhia, apurou a reportagem com fontes a par do assunto. A Brookfield não comenta.

A gestora canadense não é a única que busca retaguarda jurídica para concluir transações. Após as delações dos donos da JBS, controlada pela holding J&F, importantes companhias do grupo foram colocadas à venda. A Alpargatas, por exemplo, fabricante das sandálias Havaianas, já é alvo de cobiça. Fundos de investimento, como Tarpon e Carlyle, já chegaram a olhar o negócio que pertencia ao grupo Camargo Corrêa, apurou o Estado. Tarpon e Carlyle não comentam.

Antes de fazer uma oferta pela Alpargatas, os fundos deverão trabalhar lado a lado com seus advogados. Pessoas familiarizadas com as duas gestoras, que preferiram não se identificar, dizem que esse ativo é interessante, mas que querem entender se ele poderá ser “contaminado” mesmo com o acordo de leniência assinado no Brasil ou se aguardam a assinatura de um acordo nos Estados Unidos.
Procurada, J&F não fez comentários sobre Alpargatas, confirmando apenas a contratação de bancos para a venda da Vigor e negociações sobre a Eldorado.

Para o advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Luís André de Moura Azevedo, na falta de uma proteção contratual adequada, os fundos que têm mais pressa e não conseguem aguardar um acordo leniência podem correr riscos mais para frente. O ideal seria esperar pelo acordo.

Um importante gestor de grande fundo americano com atuação no País diz que um acordo ratificado pelo Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, dá mais segurança na compra de um ativo da Lava Jato, por ser público. Mas, na dúvida, afirma esse gestor, está em busca de negócios de menor risco no Brasil. (Colaborou Cátia Luz)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.