Com o retorno das atividades presenciais, o fluxo de carros na cidade de São Paulo cresceu, mas ainda não chegou aos patamares pré-pandemia. Em março de 2019, antes da covid-19, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou uma média de 103 quilômetros de lentidão diária em 868 km de vias monitoradas na capital. No mesmo mês de 2022, quando escolas, parte das universidades e escritórios já haviam retomado as atividades de forma híbrida ou presencial, 76 km de lentidão diária foram registrados – isto é, 73,7% do fluxo de veículos foi retomado.

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Em março de 2020, quando começou o isolamento social no País, a média de lentidão diária era de 56 km, enquanto no mesmo mês de 2021, com o auge da crise sanitária no Brasil, a taxa caiu para 24 km. Durante esse período, aqueles que trabalhavam presencialmente notaram a diferença no trânsito da capital paulista em comparação à época antes da covid-19, com avenidas que antes eram congestionadas ficando livres, e o tempo dos trajetos caindo para menos da metade. “O trânsito na Radial Leste era uma maravilha, eu levava uma hora de carro para chegar à Paulista ou à Lapa. Hoje, levo duas horas”, conta Adilene Correia, moradora da zona leste de São Paulo. Ela lembra ainda que antes da pandemia já chegou a levar duas horas para cruzar a Marginal do Tietê, o que atualmente faz em 1h20. “Ainda não estamos no nível de 2019, mas estamos chegando lá.”

SEM VOLTA

Mesmo com o fim das restrições, o especialista em trânsito e consultor Sergio Ejzenberg afirma que o tráfego de São Paulo não voltará aos níveis pré-pandêmicos. Para ele, o que já era uma tendência a ser contemplada gradualmente em mais cinco anos, rapidamente se tornou realidade. “A tendência do home office, do comércio virtual e do ensino a distância veio para ficar, e isso molda uma nova forma de economia, diminuindo o trânsito e a necessidade de mobilidade. Isso é definitivo. Não dá para abrir mão das vantagens das atividades remotas, como conforto e economia financeira e de tempo”, afirma. “Se a pessoa deixa de trabalhar presencialmente dois dias na semana já é 40% a menos de fluxo”, explica o engenheiro de tráfego Horácio Augusto Figueira, acrescentando que o fenômeno também é consequência do desemprego agravado pela pandemia.

Taxistas com pontos na Avenida Faria Lima, na zona oeste da capital, contam que a região é um exemplo da retomada só parcial. “O trânsito está voltando a ser caótico, mas ainda não chegou ao mesmo nível de antes”, afirma Daniel Alves, taxista há 15 anos, que diz que levava mais de uma hora de Pinheiros até o Aeroporto de Congonhas antes da pandemia – trajeto que atualmente faz em 45 minutos. “Antes, a Faria Lima tinha trânsito até de bicicletas, agora não tem mais. Nos horários de pico ainda fica parada, mas menos do que antes”, afirma Alexandre Ramos, motorista de fretado. “A região do Berrini e Vila Olímpia também diminuiu bastante, principalmente no horário de pico, exceto sextas-feiras”, completa Rucardi Schiniti, também condutor de fretado.

DILUIÇÃO

Ejzenberg explica que uma das grandes diferenças entre o tráfego pré e pós-pandemia está nos horários de pico, porque o fluxo foi diluído ao longo do dia. “Agora, as pessoas têm horários flexíveis e escolhem os mais convenientes. A redução da pressão do fluxo em hora de pico na lentidão é muito grande, porque o congestionamento não é resultado do fluxo total de veículos, mas do excesso deles.”

Por outro lado, a percepção de taxistas que circulam pela região central de São Paulo é diferente, como destaca Vanderlei Santos, profissional há 20 anos com ponto no bairro de Santa Cecília. “Piorou bastante. Do centro até a República, eu levava 5 minutos, hoje em dia levo 10. Já até a Paulista, antes dava 15 a 20, hoje em dia é entre 25 e 30”, comenta. Mauro Jacinto, também taxista na região, diz que um trajeto de cinco km, que em 2019 fazia em cinco a sete minutos, hoje leva de dez a 15. “As ruas estão cheias de carros, o trânsito está péssimo, porque todo mundo está andando de carro, ninguém mais quer usar condução”, observa.

Uma possível explicação para a retomada não homogênea do fluxo de veículos em diferentes regiões está na diferença de poder aquisitivo e no tipo de serviço e comércio predominante, esclarece Ejzenberg. “É uma questão de renda e tipo de trabalho. Quem mora mais afastado e tem menor poder aquisitivo, geralmente trabalha em setores que dependem da presença”, afirma. “Quanto mais remunerado o trabalho, menor a necessidade de contato presencial, e menos escravo da mobilidade urbana a pessoa é”, completa o especialista, reforçando que o fluxo de veículos nas áreas mais afastadas muda muito menos do que em áreas mais elitizadas, onde o trabalho remoto ou híbrido predomina.

Figueira afirma que outro fator que explica o aumento do trânsito em alguns trechos da cidade, enquanto os dados mostram uma queda em relação a 2019, é que, segundo o especialista, a CET monitora apenas vias de trânsito rápido. “Mas existem diversas outras áreas, como os bairros, formados prioritariamente de pistas simples, que podem apresentar padrões diferentes.” Procurada, a CET não comentou os dados até 21h de ontem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.