As moedas virtuais atraíram o interesse dos investidores pela possibilidade de ganhar dinheiro rapidamente, seja pela mineração, seja pela volatilidade. No entanto, a variação dos preços tem sido um entrave à disseminação desses ativos na economia real. Para resolver o problema, os empresários portugueses Pedro Ferreira e Pedro Ribeiro lançaram a Best Koin, moeda virtual cuja meta é facilitar as transações no varejo. A plataforma digital Start Pay, do ex-banqueiro Saul Sabbá, foi a primeira a aceitar o criptoativo como forma de pagamento.

Após 34 anos à frente do Banco Máxima, Sabbá diz ter se cansado do excesso de regulação que incide sobre o setor bancário. Por isso, em dezembro de 2017, ele vendeu a instituição financeira e resolveu empreender. Na busca por investimentos, encontrou a plataforma digital Start Pay. Criada em 2019, ela chegou ao mercado com a proposta conhecida como cashback. Muito popular em mercados desenvolvidos, essa prática atrai e conquista clientes por meio de pagamentos. Ao comprar um produto ou serviço, o consumidor recebe parte do dinheiro de volta.

Para fazer isso, a Start Pay já fechou parcerias com cerca de 150 marcas e estabelecimentos, como a rede de supermercados Carrefour, o restaurante italiano Piselli e as grifes Calvin Klein e Nike. A meta é chegar a 500 parceiros até dezembro. Os pagamentos são feitos pelo telefone celular, via QR Code. “Cobramos do lojista uma taxa de 1,5% por transação, com o pagamento em cinco dias”, diz Sabbá. Nas tradicionais maquininhas processadoras de transações, o lojista paga de 2,5% a 3%, e recebe o dinheiro somente 30 dias após passar o cartão.

Para turbinar esses resultados, em agosto a plataforma começou a aceitar pagamentos com a criptomoeda Best Koin, criada por empresários portugueses do ramo turístico. A Start Pay vai oferecer 5% de cashback para quem utilizar a Best Koin. “Logo os usuários da plataforma terão outras criptos à disposição, entre elas a mais popular, o Bitcoin”, diz Sabbá.

Pedro Ribeiro, co-fundador da Best Koin: “Best Koin chega para facilitar as transações no setor de turismo, que sofre com a volatilidade do câmbio e as tarifas bancárias para transferências internacionais” (Crédito:Divulgação)

Apetite Para Juscelino Pereira, proprietário da rede paulistana de restaurantes Piselli, a adesão à Start Pay é uma adaptação necessária, devido à queda constante dos pagamentos em dinheiro e em cheque. “Mesmo em relação ao cartão de crédito, fora o custo mais baixo com a plataforma, percebo que as pessoas não querem mais carregar o plástico no bolso”, diz Pereira. “Ter um meio de pagamento apenas com o celular, que facilita a vida e traz mais dinamismo, é algo excepcional”.

Além de aceitar o pagamento em criptomoedas, a Start Pay também permite converter para reais o saldo em moedas digitais. Para facilitar, há milhares de pontos de troca: são as 14 mil lotéricas espalhadas pelo Brasil, com retiradas limitadas a R$ 1,5 mil por operação. “Fazemos a conversão entre a economia virtual e a real”, afirma Sabbá. Para oferecer o serviço, ele firmou uma parceria com a corretora Mercado Bitcoin, que se encarrega de fazer a conversão da criptomoeda para o Real. “Ainda há cerca de 45 milhões de brasileiros desbancarizados, e o saque nas lotéricas visa atender a esse público”, afirma o ex-banqueiro.

Em uma próxima etapa, Sabbá prevê iniciar a concessão de crédito pela plataforma. As primeiras operações devem ser no modelo peer-to-peer, em que os próprios usuários emprestam entre si. “Como sempre fui do mercado financeiro, tenho uma expertise que tende a facilitar esse trabalho”, diz o executivo, que foi consultor do projeto que resultou na Best Koin.

Pedro Ribeiro, co-fundador da Best Koin, diz que a criptomoeda foi criada para facilitar as transações financeiras no setor de turismo, que sofre com a forte volatilidade do câmbio e as elevadas tarifas bancárias para realizar transferências internacionais. Para mitigar o risco especulativo, a oferta inicial (Initial Coin Offering, ou ICO na sigla em inglês) da Best Koin, em meados de abril, foi feita com todo o financiamento necessário já em caixa. Com o recurso, foram emitidas 500 milhões de unidades da Best Koin ao preço unitário de € 1. “O ICO não foi realizado para angariar recursos”, diz Ribeiro. “Com a operação, buscamos chamar a atenção do mercado sobre a chegada de uma nova criptomoeda, em busca de estabelecimentos que aceitem negociar a Best Koin”.

Diferentemente do modelo predominante no nicho, a nova moeda digital não será adquirida após horas de mineração na frente ao PC. Elas podem ser compradas (por cerca de R$ 6,3 atualmente) e utilizadas diretamente na Start Pay. Em setembro, os responsáveis pela Best Koin vão criar um market place de turismo, em que o criptoativo também será negociado. A partir de outubro, será possível encontrá-lo nas exchanges. “Buscamos promover um crescimento controlado e sustentável da Best Koin, evitando a especulação”, afirma Ribeiro. “Ainda assim, sabemos que, conforme ela chegue às mãos de terceiros, será um controle difícil de ser feito.”