A Cogna, maior grupo educacional do País, sofreu os impactos mais significativos nos resultados de 2020 entre as empresas listadas do setor de educação, com prejuízo líquido de R$ 5,8 bilhões – após lucro de R$ 235,2 milhões em 2019. Apesar dos esforços da companhia para reestruturar as operações, analistas do mercado ainda veem com desconfiança o processo de virada prometido pela companhia.

A empresa diz que seus números foram impactados principalmente pelos ajustes do provisionamento de ensino superior, aumentando a sua cobertura de alunos pagantes e do Parcelamento Especial Privado (PEP), programa de financiamento próprio da Cogna. Alega ainda que os ajustes foram concluídos em 2020 e que não espera impactos adicionais.

A XP avalia que a empresa teve um resultado pressionado pelos ajustes em curso de sua divisão de negócios de graduação, e que as dores da reestruturação ainda serão sentidas durante 2021. A expectativa é de um impacto de R$ 143 milhões no resultado deste ano e de R$ 206 milhões no caixa.

Em um de seus passos de readequação, a Kroton, braço de ensino superior do grupo, fez ajustes em 45 unidades em 2020: 16 passaram por unificação de campi e 29 tiveram migração de operações por parceiros. “Essa reestruturação vai diminuir custos, incluindo inúmeras renegociações de aluguel. Teremos redução de 27% em nossos custos e despesas”, disse Roberto Valério, presidente da Kroton, em teleconferência para analistas.

Dívida

Um sinal amarelo para investidores foi o aumento do endividamento: a empresa fechou o ano com dívida líquida de R$ 2,9 bilhões. O próprio presidente da Cogna, Rodrigo Galindo, apontou que o número ultrapassou o teto estabelecido pelo regulamento de debêntures. “Mesmo que essa alavancagem não suponha quebra de covenants (contratos de empréstimos) porque não foi um aumento consecutivo, vamos iniciar negociações com debenturistas para renegociação de alguns critérios determinados.”

Para os analistas do BTG Pactual, é provável que a empresa mantenha esse nível e viole as cláusulas estabelecidas na emissão de debêntures. “Com isso, a empresa sinaliza que deve iniciar negociações com os credores”, afirmam os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim. Eles consideraram o conjunto de resultados da companhia “pouco inspirador”.

Analistas do mercado também apontam que o cenário macroeconômico de curto prazo para a Cgona e para todo o setor de educação permanece nebuloso, com especial preocupação com o ciclo de captação de novos alunos de 2021, que deve ser impactado pela segunda onda da covid-19 no Brasil.

Por outro lado, há quem aponte sinais de avanços. Para Marcio Osako e Rafael Barros, do Santander, os números não foram tão negativos, considerando os impactos das mudanças no caixa da companhia. Eles afirmaram que o resultado operacional baixo “foi estritamente devido a outra provisão para inadimplência extraordinária, em uma abordagem mais conservadora nas contas a receber”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.