O mês de junho começou sem direção definida nas bolsas internacionais nesta segunda-feira que abre o mês de junho, em meio aos manifestos do fim de semana nos EUA contra a onda de violência, e à incerteza quanto à guerra comercial. Esse quadro, de certa forma, pode ser equilibrado, por ora, pela ausência de medidas de retaliação dos Estados Unidos para a China – esperadas na sexta-feira – e por dados de atividade da economia chinesa indicando recuperação. Diante desse quadro binário, o investidor da B3 ainda avalia os possíveis impactos dos manifestos no Brasil, ontem, contrários e a favoráveis a uma intervenção das Forças Armadas no governo do presidente Jair Bolsonaro.

Após abrir o pregão em baixa, às 11h08, o Ibovespa subia 0,32%, aos 87.671,39 pontos, amparado principalmente por ações ligadas ao setor financeiro.

“O segmento tem sofrido muito este ano. Hoje, tenta recuperação”, diz um operador de renda variável. No horário citado acima, Bradesco PN subia 2,16%, mas acumula perdas de quase 41% em 2020. Já Itaú Unibanco PN tinha alta de 1,22% e declínio superior a 35% em 2020.

O ambiente hostil nas ruas recebeu duras críticas de formadores de opinião como o decano Celso de Mello, do STF, e de Gilmar Mendes. Na sexta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já havia se pronunciado, dizendo que o artigo 142 da Constituição Federal, que define o papel das Forças Armadas, não permite que elas intervenham em qualquer conflito entre os poderes.

Ainda assim, o estrategista-chefe da Levante Ideias de Investimentos, pondera que a aproximação do governo com o Centrão tende a garantir governabilidade, de forma a impedir reflexos negativos dessa instabilidade política sobre os ativos. “Tudo vai depender de como de fato andará essa relação Centrão”, diz, citando avanços nessa relação após o governo nomear o chefe do gabinete do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI), Marcelo Lopes da Ponte, para a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem um orçamento de R$ 29,4 bilhões neste ano.

Além disso, Bolsonaro deve entregar o comando do Banco Nacional do Nordeste (BNB) para um nome indicado pelo Partido Liberal (PL), sigla liderada pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.

Mesmo avaliando que investidores adotem certa cautela, diante dos riscos deste ambiente prejudicar a governabilidade e a recuperação futura da economia, o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada, acredita que esse contexto ainda não deve se traduzir em estresse nos mercados.

Na avaliação do economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, o fato de o mundo e o Brasil estarem com bastante liquidez pode inibir eventuais perdas na Bolsa. “Mesmo com essa instabilidade política, com o avanço da pandemia do novo coronavírus e da atividade fraca, o grande diferencial é que há muito dinheiro no exterior e aqui, e com taxa de juros bem baixa. Ainda assim, a Bolsa subiu muito na semana passada 6,36% e em maio 8,56%”, diz. “Entretanto, é um momento de cautela. Não sabemos quais serão as repercussões dos manifestos no Brasil do STF, do TSE…”, pondera.

Apesar desse quadro incerto, Bandeira, do ModalMais, acredita que a notícia de que a China suspendeu a importação de produtos agrícolas dos EUA pode favorecer os negócios no Brasil, que é um grande parceiro comercial da China. Sendo assim, o economista estima que o Ibovespa busque os 88 mil pontos e, ao consolidar este nível.

Hoje na B3, as ações de siderúrgicas e mineradoras sobem. Vale ON tinha alta de 0,47%, enquanto CSN avançava 3,20%, às 11h22.

Grande parceiro comercial do Brasil, a China informou que o índice de atividade industrial de manufatura apresentou uma alta acima da esperada, retomando o nível acima de 50 pontos, que é indicativo de retomada.

“São crescentes os sinais de retomada das economias, situação que fornece lastro à recuperação do apetite ao risco observada nos últimos dias”, diz o economista da Tendências, ponderando, no entanto que as tensões entre Estados Unidos e China permanecem como fonte de cautela.

Apesar de ter adotado um tom comedido na sexta-feira em relação ao país asiático, o presidente dos EUA, Donald Trump, sinalizou que o país tomará medidas como resposta ao que tem ocorrido em Hong Kong.