Para quem vê de fora, trata-se de mais um prédio espelhado recheado de lajes comerciais e escritórios. Mas nem sempre se trata disso. Praticamente padrão no setor corporativo, o uso de vidro reflexivo na fachada tem ganhado espaço em edifícios com apartamentos, especialmente nas regiões em que os “pele de vidro” já são predominantes, como no entorno do Itaim Bibi, na zona sul paulistana. E vai chegando aos poucos a outras áreas do Estado, tanto na capital quanto no litoral.

A executiva Sandra Bernardo, de 45 anos, lembra que a fachada majoritariamente envidraçada do edifício onde vive chamou a atenção quando foi conhecê-lo. “Pensei: ‘que prédio legal’. Só sabia que era residencial porque tinha visto na internet”, conta. “Morei no Chile por dois anos, (a maioria dos bairros que frequentava, em Santiago) era totalmente envidraçada, que nem a Faria Lima.”

Ela diz que a estética “mais clean” foi um dos pontos que chamou sua atenção, assim como a vista ampla para o pôr do sol paulistano. A fachada envidraçada até lembra a do edifício onde trabalha, sede brasileira de uma multinacional. “Tiro várias fotos da sacada, posto quase todo dia. É uma vista livre, dá para ver as torres gêmeas”, comenta, referindo-se às São Paulo Corporate Towers, um dos símbolos arquitetônicos do entorno, conhecidas pelas fachadas espelhadas.

Esse tipo de estética é inspirada majoritariamente em projetos europeus e norte-americanos, que originalmente visavam um maior aproveitamento da luz. Ele também se espalhou por outras capitais estrangeiras, de Dubai à Cidade do Panamá, assim como ganhou espaço em construções com finalidades diversas, como hospitais, shoppings, supermercados, escolas e lojas. Mais do que isso, tornou-se praticamente uma das principais identidades visuais de centros financeiros mundo afora, como as regiões La Défense (Paris), Central Business District (Cingapura e Toronto), Loop (Chicago) e Porta Nuova (Milão), entre outras.

Antes mais restrita ao uso corporativo, a presença mais forte em residenciais costumava se restringir a grandes janelas, varandas fechadas e assemelhados até anos atrás. Assim como em São Paulo, contudo, esse modelo tem mudado também em cidades como Curitiba e Manaus. O destaque no cenário nacional é Balneário Camboriú, no litoral catarinense. Principal polo de arranha-céus do País, muitos dos prédios concentrados à beira-mar têm ao menos a fachada frontal (voltada para a orla) coberta de vidro.

O edifício paulistano que apostou mais fortemente nessa proposta entre os de apartamentos é o Vitra, de 2015. Anúncio dele em uma imobiliária para público de alta renda ressalta que é o “primeiro residencial de São Paulo 100% em pele de vidro”. Com projeto assinado pelo arquiteto polonês Daniel Libeskind, como seus pares subsequentes, ele se diferencia de vizinhos corporativos por não ser selado e, portanto, permitir a abertura das janelas.

Nos anos seguintes, ao menos outros oito projetos com aposta forte no material foram entregues ou lançados na região, incluindo outro de um de um escritório estrangeiro (do italiano Paolo Pininfarina). Todos atendem a um público de alta renda, encabeçados por incorporadoras tanto de maior porte, como a Cyrella, quanto de experiência mais recente no setor, como a Emoções. Os anúncios costumam destacar justamente as características do visual. Um no Itaim Bibi, por exemplo, chama atenção para as “grandes fachadas translúcidas em pele de vidro, que proporcionam aos moradores pontos de vista privilegiados”.

Sócia de uma administradora de apartamentos para locação na região, a We Home, Virgínia Cavalheiro considera que esse tipo de edifício reúne características que atraem os clientes. “Essa questão da arquitetura, de decoração, da vista são relevantes, fazem parte do pacote”, afirma. Mas em parte dos imóveis, pela alta incidência solar, a presença de cortinas blecaute se torna essencial para garantir a privacidade, explica.

Inspiração

Uma das principais referências em edifícios revestidos de vidro, o escritório aflalo/gasperini também começou a desenvolver projetos com essa proposta para prédios com apartamentos (residenciais ou de uso misto). Sócia diretora na empresa, Grazzieli Gomes acha que o visual considerado “moderno, tecnológico e atemporal” é um dos aspectos que explicam o interesse. “Um projeto com um único material, dependendo da volumetria, fica mais minimalista e limpo.”

Ela destaca, contudo, que não considera ser um visual que se adeque a qualquer lugar. “Projetos residenciais, em sua grande maioria, já possuem vidros transparentes em seus peitoris de terraço. Revestir um prédio inteiro em vidro tem impacto principalmente em custo, o que em geral é difícil de viabilizar em empreendimentos puramente residenciais.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.