Há de se perguntar aonde essa relação do Brasil com os EUA vai chegar. A indagação procede. Ainda mais no momento em que o presidente americano, Donald Trump, lança novo tiro de abate contra o colega, digamos chapa de ideias, Jair Bolsonaro. O aliado brasileiro não poupou esforços em rapapés e bajulações ao líder do mundo livre. Atendeu a todos, literalmente todos, os pedidos dele. Abdicou da condição de privilégio de país emergente na OMC. Abriu as porteiras ao combustível americano sem taxação. Liberou americanos da necessidade de visto de entrada. Reagiu aos venezuelanos como queria o topetudo Trump, fazendo às vezes de garoto de recado. Foi um exemplo de submissão e agrado. O que levou em troca? Nada. A solicitação de apoio a um assento na OCDE foi promessa aventada e depois esquecida. E agora, o mesmo Trump, em plena campanha eleitoral, submete o parceiro Bolsonaro a um constrangimento sem tamanho. Acusa o Brasil de manipular câmbio, sabendo que a desvalorização é um mero e inevitável fenômeno de mercado dado o mau desempenho da economia bananeira, e anuncia uma retaliação comercial aos produtos nacionais. Quer taxar aço, alumínio e derivados, humilhando uma relação que, apenas na cabeça de Bolsonaro, era tida como a melhor possível. “Canal aberto” com a Casa Branca, trombeteava o capitão reformado com ar triunfante e sorriso no rosto. Para quê? Serviu a quem até o momento? Há uma gigantesca, histórica, diferença entre relações pessoais e assuntos de Estado, ao se tratar da diplomacia entre dois países. Messias e seu chanceler despreparado, Ernesto Araújo, parecem não perceber. Trump, ao contrário, sabe muito bem separar as coisas. Ainda mais quando lhe convém. O presidente americano está, no momento, fazendo o típico populismo eleitoral. Atendendo a suas bases de apoio, que clamam pelo protecionismo. Bolsonaro, por sua vez, cai na esparrela de imaginar que tudo se resolve com um mero telefonema. É de um amadorismo vergonhoso prestar tamanha vassalagem em prejuízo dos interesses nacionais. O tratamento dispensado pela Casa Branca, através das duras medidas tomadas agora contra o parceiro Brasil, deveria servir de choque de realidade. Mas seria pedir demais. A passividade de um lado e a agressividade do outro demonstram a fragilidade de uma relação tão delicada. A diplomacia do tapinha nas costas, sem amparo técnico e estratégico, angaria eventuais sorrisos protocolares, fotos para torcida e nada mais. Chefes de Estado não devem confundir preferências pessoais com movimentos de governo, sob o risco de serem manipulados pelos outros. Como aconteceu. Foi lamentável. O mito daqui serviu de joguete em meio as sandices de Trump.

(Nota publicada na Edição 1150 da Revista Dinheiro)