A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta segunda-feira (19) a realização de um estudo clínico para avaliar a segurança e eficácia de uma terceira dose da vacina da AstraZeneca. Os voluntários, em geral profissionais de saúde que combatem a pandemia, receberão uma nova aplicação do imunizante entre 11 e 13 meses após a segunda dose.

“Trata-se de um estudo de fase 3, controlado, randomizado, simples-cego, ou seja, em que só o voluntário não saberá o que tomou: se uma dose da vacina ou de placebo”, diz a Anvisa em nota oficial. A agência também autorizou a Pfizer a realizar testes com a dose extra em 18 de junho.

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Embora diversos países já estudem a aplicação de uma terceira dose de vacina devido ao avanço da nova variante delta, mais transmissível, ainda não há consenso entre a comunidade médica internacional. A polêmica teve início quando pesquisadores de Israel divulgaram pesquisa que indica a queda de proteção da vacina da Pfizer, de 95% para 64%, contra a nova cepa.

No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) rechaça a campanha pela terceira dose da vacina uma vez que boa parte da população mundial ainda não tenha se vacinado. “Pode ser que você precise de reforços depois de um ou dois anos, mas neste ponto, seis meses após a dose primária, não parece haver qualquer indicação”, afirmou Soumya Swaminathan, da OMS, em coletiva de imprensa.

O órgão defende que uma terceira dose é inviável em um momento em que ainda é grande a circulação do vírus, o que pode permitir o surgimento de novas variantes. A OMS defende, neste momento, expandir a vacinação, sobretudo nos países mais pobres.

O diretor geral da OMS, Tedros Gebreyesus, alega que o mundo só estará seguro quando todos os países controlarem a pandemia. “Estamos fazendo escolhas conscientes para salvar os mais necessitados”, disse Gebreyesus em seu escritório em Geneva.

Tanto a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), como a FDA (Food and Drug Administration), que regula a distribuição de remédios nos Estados Unidos, e o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) também dos EUA, divulgaram uma declaração conjunta dizendo que quem foi totalmente imunizado não necessita de uma nova dose de vacina neste momento, nem contra novas variantes. A resposta foi destinada sobretudo à Pfizer, que pressiona o governo americano para uma nova campanha de vacinação.

A professora de medicina da Universidade de Maryland e pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), Kirsten Lyke, acompanha as discussões sobre uma terceira dose de vacina e diz que há três contextos em que elas podem ser úteis: para novas variantes do coronavírus; para reativar proteção imunológica após as duas doses; e para pessoas com sistema imunológico comprometido e que tenham recebido um transplante recentemente. Contudo, ela ressalta, em entrevista ao jornal New York Times, que ainda não há evidência definitiva de que uma dose extra seja necessária.

“Estamos muito interessados ​​em saber se uma terceira dose pode ou não estar associada a qualquer risco maior de reações adversas, particularmente alguns dos mais graves – embora muito raros – efeitos colaterais”, afirmou Jay Butler, vice diretor do CDC, em coletiva de imprensa.

No Brasil

O Instituto Butantan avalia aplicar uma terceira dose da CoronaVac na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, que foi alvo de uma vacinação em massa no início da pandemia. A ideia passou a ser ponderada a partir de um estudo realizado pela Universidade Católica do Chile, que diz que os anticorpos neutralizantes e linfócitos T gerados a partir da CoronaVac começam a diminuir depois de seis meses.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) planeja aplicar uma dose de reforço à população idosa, o que estaria sendo estudado, mas teria que ter o aval do Ministério da Saúde para constar no Plano Nacional de Imunizações (PNI). O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, rebateu e criticou ações contra a Covid-19 que difiram do planejamento no PNI.

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) disse que, a partir de janeiro de 2022, os brasileiro precisarão se vacinar novamente – o que poderia ser feito com a vacina brasileira desenvolvida pelo Instituto Butantan.

“A infecção natural representa, normalmente, cerca de cinco a seis meses de imunidade no indivíduo. Algumas vacinas a gente precisa esperar o decorrer do tempo para sabermos se precisaremos ou não de um reforço anual, o que é bastante provável”, afirma o imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, em nota divulgada pela Câmara Municipal de Fortaleza.