As manifestações contra o certificado de saúde se multiplicam na França, como um reflexo do que se observa há vários meses nas redes sociais, onde proliferam as mensagens contra as máscaras, as vacinas e o confinamento.

“Me chamo Claire, sou enfermeira”. O vídeo de sete minutos publicado em 14 de julho apresenta informações falsas, entre elas, a de que a pandemia não existe e que as vacinas não funcionam. Acumula mais de um milhão de visualizações e, em poucos dias, foi compartilhado dezenas de milhares de vezes no Facebook. Também aparece no Twitter e TikTok, entre outras redes sociais e plataformas.

Assim como ela, muitos “covid-céticos” encontram nas redes sociais uma câmara de ressonância para ecoar suas ideias, aproveitando movimentos que já estavam estruturados na Internet antes da covid-19, como os antivacinas, ou os “coletes amarelos”, o movimento de protesto social nascido na França em 2018.

Os antimáscaras conseguiram organizar alguns protestos nos últimos meses. As manifestações aumentaram desde 12 de julho, quando o presidente Emmanuel Macron anunciou vacinação obrigatória para os profissionais da saúde e a exigência do certificado de saúde para entrar em bares, restaurantes, cinemas, trens, ou aviões, entre outros.

– “Base” –

Mais manifestações estão previstas para este sábado (24). Na semana passada, os protestos reuniram mais de 110.000 pessoas em toda França, de acordo com a polícia. Nelas, há um único lema: a defesa das “liberdades”.

“Este ímpeto de protesto está presente há vários meses em diferentes canais digitais”, disse à AFP a professora de Direito Público Coralie Richaud, da Universidade de Limoges (centro).

Ela também ressalta o caráter “extremamente heterogêneo” dos perfis, que vão da extrema-esquerda à ultradireita (alguns adeptos de teorias da conspiração, outros, não), passando por muitos antivacinas e até alguns vacinados.

“O único denominador comum é ser ‘anti'”, completa esta especialista em movimentos de protestos na Internet.

Por isto, acrescenta Coralie, precisam “estruturar o protesto, uma reivindicação que sirva de base e que passe do individual ao coletivo”, questionando o governo.

O conhecido “colete amarelo” Jérôme Rodrigues convoca, no Facebook, “todos os cidadãos descontentes” a saírem às ruas, em uma “união ao redor da ira”.

Os “coletes amarelos” não estão sozinhos. O movimento tem outros apoiadores influentes na Internet.

Entre eles, destacam-se o ex-número dois do partido de extrema-direita Frente Nacional e presidente dos Patriotas (ultradireita), Florian Philippot, e o soberanista Nicolas Dupont-Aignan. Ambos têm quase 250.000 seguidores no Twitter cada, para os quais transmitem mensagens falsas e incompletas sobre as vacinas e a covid-19.

Outros menos conhecidos da opinião pública também contam com muitos seguidores, como a deputada Martine Wonner, psiquiatra de formação, que divulga há mais de um ano informações falsas sobre máscaras, ou sobre vacinas, inclusive na Assembleia Nacional.

No fim de junho, ela afirmou que as companhias aéreas proíbem os voos para os vacinados, uma afirmação desmentida diversas vezes. O vídeo foi compartilhado quase 10.000 vezes em três dias.

O movimento também se alimenta de “fiadores científicos”, como o médico Louis Fouché, ou a geneticista Alexandra Henrion-Caude. Nos últimos meses, esta última conseguiu 100.000 seguidores no Twitter e YouTube, plataformas nas quais multiplica as informações falsas contra as vacinas.

O cientista Luc Montagnier, prêmio Nobel de Medicina em 2008, não comparece às manifestações, mas é uma voz com peso. Há vários anos, seus colegas questionam-no por suas teorias pouco científicas. Nas entrevistas, muito compartilhadas nas redes sociais, ele repete que as vacinas criaram as variantes Sars-Cov-2, uma afirmação sem qualquer base científica.