A Índia é o país que mais produz motocicletas, com cerca de 17,5 milhões de unidades anuais. A maior parte fica no mercado interno, o que justifica o baixo reconhecimento internacional dos fabricantes indianos. É o caso da Bajaj Auto, terceira maior produtora mundial de motocicletas, atrás apenas das japonesas Honda e Suzuki. Com quatro plantas industriais, ela emprega mais de 8 mil funcionários permanentes. Sua capacidade de produção é de 6,3 milhões de unidades por ano, entre motocicletas, scooters elétricos, triciclos (os pitorescos tuk-tuks que povoam as ruas do país) e quadriciclos fechados. Detém 48% da austríaca KTM e da Husqvarna, de origem sueca. É também a maior exportadora indiana de veículos, com 2,5 milhões de unidades anualmente destinadas a mais de 80 mercados. Em muitos deles, especialmente na África, é a marca líder, assim como na Colômbia. Hoje, o Brasil é apenas o 81º país na lista de vendas da Bajaj. Isso irá mudar em breve.

A montadora indiana anunciou oficialmente no dia 15 de junho, em Pune, na Índia, a instalação de uma linha de montagem de motocicletas no Polo Industrial de Manaus, onde as demais fabricantes do setor mantêm suas plantas de produção no Brasil. A escolha da capital amazonense se deve não apenas aos benefícios fiscais da Zona Franca mas também à rede de fornecedores que atua na região desde a década de 1970. Segundo Rakesh Sharma, principal executivo da Bajaj Auto, as motos desmontadas em kits já estão a caminho da Amazônia, em contêineres embarcados, e deverão estar rodando em solo brasileiro na segunda metade de agosto. Inicialmente, serão produzidas em sistema CKD (Complete Knocked Down, ou seja, desmontadas) na fábrica da Dafra, empresa brasileira ligada ao Grupo Itavema.

BEM ACABADA Modelo Avenger, com duas motorizações (de 160 e 220 cc), traz muitos cromados, é boa de pilotar e custa o equivalente a US$ 1,8 mil na Índia. (Crédito:Divulgação)

KTM E DUCATI A Dafra comercializa com sua marca própria motocicletas da indiana TVS (que é rival da Bajaj) e da taiwanesa Sym. Ela também fornece a estrutura para terceirização das marcas KTM e da italiana Ducati, montadas em sua planta. Ambas atuam meio timidamente no Brasil e devem ter suas operações alteradas, o que não foi confirmado pelas partes. Gerente de marketing da Dafra, José Ricardo Siqueira confirmou a terceirização da fabricação dos produtos da Bajaj na planta de Manaus, em uma linha dedicada. Segundo ele, já tiveram início tanto o treinamento de funcionários quanto a implantação de sistemas.

O principal executivo da Bajaj Brasil é Waldyr Ferreira, contratado há dois anos, antes do início da pandemia. Ferreira tem longa carreira na indústria automotiva, com passagens por Toyota, Triumph e Harley-Davidson. “Os planos da Bajaj para o Brasil são de longo prazo, com foco na estruturação da operação e o correto entendimento do mercado brasileiro pela nossa matriz”, afirmou o executivo. Ele destacou o foco no cliente, com a construção de uma sólida rede de concessionárias, armazém de peças em plena operação, soluções financeiras para o consumidor e um produto de qualidade como pilares da construção da marca no País. “Os passos seguintes serão consequência desse trabalho inicial.”

Embora reticentes quanto aos números de investimento, os dirigentes da Bajaj Auto afirmam que a empresa está solidamente capitalizada, com US$ 2,5 bilhões em caixa, segundo Rakesh Sharma, que garantiriam o aporte necessário para o início das atividades de implantação da operação brasileira. Na segunda metade de agosto, com o anúncio das primeiras concessionárias, serão divulgados todos os modelos que virão para o Brasil. Por enquanto, é certo que o País receberá scooters elétricos Chetak, supercharmosos e com bom desempenho e autonomia, além de motocicletas das famílias Dominar (mais sofisticadas, em versões de 250 e 400 cc); Pulsar (urbanas e utilitárias, com motores de 150, 200 e 250 cc) e Avenger (com muitos cromados e versões 160 e 220 cc). Esta última custa o equivalente a US$ 1,8 mil na Índia.

SUCESSO LOCAL A Índia é líder global na produção de motocicletas e a maior parte fica no mercado interno. A Bajaj exporta para mais de 80 países modelos como a Dominar 400 cc. (Crédito:Divulgação)

ECONOMIA E ROBUSTEZ As motos apresentam bons detalhes de construção e acabamento, com a adoção de tecnologia embarcada atual, como freios ABS (na dianteira, na maioria das versões), painéis digitais com bom nível de informação e iluminação por LEDs. Na pista, mostraram bom desempenho em geral, com boa estabilidade e comportamento dinâmico adequado. Os motores, modernos, privilegiam economia e robustez à esportividade. Assim, comportam-se melhor nas baixas e médias rotações que nos altos regimes de giros. Curiosamente, o marketing da empresa valoriza muito mais o nome da família de cada produto (Dominar, Pulsar e Avenger), que aparece estampado em relevo nos tanques, em detrimento do nome Bajaj. Em alguns modelos, é até mesmo difícil de encontrar a marca. Mais um motivo que a torna pouco conhecida mundo afora.

Dos modelos avaliados, merece destaque o scooter elétrico Chetak, produzido em uma moderníssima planta recém- -inaugurada com capacidade anual de 500 mil unidades. A autonomia é de até 90 quilômetros e a velocidade máxima limitada a 69 km/h. Opção ambientalmente correta para a modalidade de uso urbano que os norte-americanos chamam de commuting, o deslocamento diário entre as atividades rotineiras. Assim como o Chetak, outros modelos Bajaj podem encontrar uma boa receptividade do consumidor brasileiro, dependendo, é claro não só do preço e da qualidade, como da segurança no pós-venda. A conferir.