Não será delírio ver cogumelos por toda parte em 2022. Tendência que começou a aparecer na indústria em meados do ano passado, o fungo se consolidou de vez no mundo da moda, da gastronomia e do turismo. Nos acessórios e nas roupas, grifes como Gucci, Hermès e Stella McCartney já mergulharam de cabeça. Como no mundo nada se cria, o movimento já chegou a outros setores, como os de turismo, saúde e bem-estar. Os negócios à base desses fungos crescem 9% ao ano e devem faturar US$ 63 bilhões globalmente em 2027, alta de 40%, segundo a Research and Markets. Para a consultoria de tendências WGSN, não há dúvida: estamos na era dos cogumelos.

Nas passarelas, a inspiração é a moda psicodélica dos anos 1960, que eternizou os cogumelos alucinógenos. Mas, assim como ocorreu com a cannabis (que virou uma mina de ouro para novos empreendimentos), o recente interesse pelo reino dos fungos está associado ao desejo de se reconectar com a natureza, seja pelo consumo sustentável, seja em função do isolamento provocado pela Covid-19. Essa foi a explicação da onda “cottage core”, moda inspirada pela vida no campo que dominou as redes sociais TikTok e Instagram no ano passado.

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Do ponto de vista técnico, a grande descoberta atual é o micélio, a parte vegetativa dos cogumelos. Ela forma uma teia de fios que vem sendo largamente utilizada na indústria para produção de matéria-prima biodegradável. O micélio já dá origem a um couro sintético considerado o material do futuro da moda, especialmente para designers que são ativistas do veganismo. Foi assim que ele foi parar na nova versão da bolsa Icon da grife Stella McCartney. Já os tecidos da fibra de micélio servem a um nicho de novos designers voltados à geração Z (nascidos entre 1995-2010), caso da Eden Power Corp, cujo chapéu (bucket hat, para usar o termo apropriado) vendido US$ 90 está esgotado nos marketplaces. A embalagem criada com o micélio também deve ser adotada no mundo do luxo como alternativa compostável aos resíduos de plástico.

E à medida que os cogumelos se popularizaram como fonte para o mercado, uma horda de consumidores passaram a disputar produtos à base de fungos que, no mundo da beleza, prometem acalmar a pele e aliviar inflamações. No setor de turismo, os retiros psicodélicos se multiplicam na Jamaica e na Holanda, onde as leis são mais flexíveis quanto ao uso de substâncias psicoativas, e até no Canadá, EUA e México, que atraem jovens viajantes com ofertas de experiências alternativas.

Com a rápida expansão dessa indústria, os cogumelos ganharam mais espaço nos menus da alta gastronomia, onde já eram ingredientes populares. Agora, propagandeado como um superalimento, rico em vitaminas e substituto da carne, a demanda nos restaurantes saltou 25% só nos EUA, especialmente com o aumento da população vegana.